A retração da economia em 2015 e 2016 foi tão forte que o efeito no Produto Interno Bruto (PIB) per capita só deve ser compensado em 2023, nas contas do economista Simão Silber, da FEA/USP.
O economista Samuel Pessôa, do Ibre/FGV, diz que, após a euforia da alta de 7,5% do PIB em 2010, que pôs o Brasil como exemplo de prosperidade na capa da revista The Economist, a desaceleração que começou em 2011 foi vista como um mal a ser combatido com todas as armas:
No governo Dilma, o encadeamento das decisões do governo se encaixa em um padrão que o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, classifica de moto perpetuo.
“Então, nessa situação, a solução foi pedalar, jogar as contas dos subsÃdios explÃcitos do BNDES para frente e maquiar resultados para dizer que estava tudo bem.â€
FUTURO
Apesar dos efeitos catastróficos para a economia – que se refletiram no maior perÃodo de retração econômica do PaÃs em 120 anos -, os economistas concordam que o atual debate eleitoral não reflete uma consolidação em direção a medidas mais austeras na economia, com corte de gastos e reformas.
A explicação para essa resistência pode ser histórica, na opinião de Mesquita, do Itaú Unibanco, pois o brasileiro está acostumado a ver o governo como provedor.
O direcionamento que foi apenas esboçado pela administração Michel Temer, segundo ele, precisa ser implementado – e rapidamente – pelo próximo governo.
“Estamos na beira do precipÃcio. Dependendo do governo que vier por aÃ, corremos o risco de perder o controle sobre a economia.â€
Para os economistas ouvidos pelo Estado, houve avanço no sentido de evitar que o problema venha a se repetir.
“Na questão de liquidez bancária, que foi uma das causas do problema do Lehman Brothers, a regulação melhorou bastante, ficou muito mais restritivaâ€, diz Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.
“Os bancos têm capacidade menor de se alavancar, precisam ter colchões de liquidez mais amplos.â€
“Donald Trump ganhou uma eleição com o diagnóstico contrário, de que a regulação passou do ponto.â€
GOVERNANÇA APRIMORADA
A quebra do banco americano Lehman Brothers fez o dólar disparar e resultou em perdas bilionárias para empresas brasileiras, que operavam com os chamados “derivativos tóxicosâ€, que apostavam numa cotação mais baixa da moeda americana.
Diversos bancos atuaram para renegociar dÃvidas e evitar uma quebradeira geral.
O BNDES teve de intervir para salvar essas companhias e a saÃda, para algumas delas, foi se unir a rivais.
Não há dados oficiais, mas estimativas apontam que ao menos 200 empresas se envolveram nessas operações arriscadas.
Em 2009, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), que regula os bancos centrais, estimou as perdas do setor privado nacional em US$ 25 bilhões.
Estudo dos ex-diretores do Banco Central (BC) Mário Mesquita e Mário Torós estimou que a exposição às operações era de US$ 37 bilhões.
Os casos mais emblemáticos foram os da fabricante de celulose Aracruz, que perdeu US$ 2,1 bilhões, e da gigante de alimentos Sadia, com rombo de US$ 2,5 bilhões.
O trabalho começou com um combate ao “incêndioâ€, liquidando os tÃtulos arriscados, com prejuÃzo para as empresas.
A partir daÃ, vinha a reestruturação, com alongamento de dÃvida e, em alguns casos, mudança de controle.
Na Aracruz, a venda para a Votorantim Celulose e Papel (VCP) já vinha sendo negociada antes da crise.
Com o rombo dos derivativos, o negócio só foi adiante por causa do BNDES.
Após aportar R$ 2,4 bilhões, o banco ficou com pouco mais de 30% da Fibria, fusão de Aracruz e VCP.
As dificuldades financeiras obrigaram a Sadia a se unir à rival Perdigão, criando a BRF, a maior exportadora de frangos do PaÃs.
Os rombos chamaram a atenção para falhas de gestão.
“Os conselhos falavam de governança, mas não exerciam seu papelâ€, disse o advogado Otávio Yazbek, ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o órgão regulador do mercado.
Para reagir à crise, a CVM criou novas regras, obrigando as empresas a informarem ao mercado sobre riscos com derivativos.
Em outra frente, usou processos administrativos contra executivos e conselheiros da Aracruz e da Sadia, concluÃdos anos depois, para frisar que os conselheiros, que procuraram se eximir de culpa, devem exercer o “dever de diligênciaâ€.
APOSTA NA PRODUÇÃO
Márcio Pochmann, um dos coordenadores do programa do candidato petista Fernando Haddad, afirma que a continuidade do estÃmulo oficial à economia no governo Dilma Rousseff mirou um alvo diferente do perseguido por Lula entre 2008 e 2009: enquanto o primeiro movimento buscou incentivar o consumo, o segundo tentou estimular a produção.
“Era um momento em que a capacidade ociosa brasileira era muito baixaâ€, ressalta .
Pochmann admite que a polÃtica de Dilma não foi bem sucedida, uma vez que, como agora se sabe, a economia não cresceu e os incentivos que foram criados – redução do preço da energia, do combustÃvel e desonerações tributárias direcionadas, entre outros – não se traduziram em investimentos significativos.