Tem até educação fake na Sobral de Ciro 24/09/2018
- Wilson Lima - ISTOÉ
Alardeada como uma das principais bandeiras dos Ferreira Gomes no Ceará e usada no discurso do presidenciável Ciro Gomes (PDT) como modelo a ser ampliado para todo o Brasil, a gestão educacional de Sobral e de várias cidades do interior cearense virou caso de polícia.
Nas últimas semanas, surgiram denúncias de que os bons índices alcançados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não somente em Sobral, cidade administrada pelo irmão de Ciro, Ivo Gomes, mas também em outras cidades próximas, podem ter sido fraudados.
O Ideb é o índice que mede a qualidade da educação nos municípios.
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As denúncias estão sendo investigadas pela Polícia Civil do Ceará, pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal.
De acordo com as acusações, ex-alunos e ex-professores afirmam que visando a elevação dos índices educacionais, principalmente em Sobral e em Itapajé, diretores e professores utilizavam de expedientes como adulteração das notas no Sistema Integrado de Gestão Escolar (SIGE), aliciamento e cooptação de estudantes com melhor desempenho escolar para substituir os de rendimento mais baixo, professores permitindo que os alunos colassem nos testes, entre outras práticas.
Nos programas eleitorais, o exemplo de Sobral tinha servido de plataforma da campanha política de Ciro Gomes.
Os números, de fato, impressionavam.
Sobral, segundo a propaganda oficial, exibia 30 escolas municipais entre as 100 melhores do Brasil e chegou a um Ideb de 9,1 em 2017.
A escalada do Ideb de Sobral começou em 2005.
Saiu de 4 naquele ano, pulando para 8,8 em 2015.
Na semana passada, porém, esse milagre passou a ser fortemente questionado, depois da denúncia relacionada às fraudes no Ideb ter sido encaminhada ao MPF cearense.
Já foi determinado pelo procurador Alexandre Meireles Marques que as Procuradorias da República em Sobral e Itapajé iniciem o processo de apuração.
A atuação do MPF vai abranger não somente Sobral, mas também Coreaú e Itapajé, cidades alinhadas ao projeto político dos Ferreira Gomes.
A PF do Ceará também já instaurou inquérito e iniciou as investigações.
O secretário de Educação de Sobral, Herbert Lima, nega as acusações e as classifica como “fruto de perseguição política do grupo contrário” à administração dos Ferreira Gomes.
“Temos uma rede com 22 mil alunos. Esse é um universo muito grande de alunos para que nós tivéssemos esse tipo de capacidade de intervenção direta”, argumenta o secretário.
AS FRAUDES NOS EXAMES
Não é o que pensam as autoridades que apuram o caso.
Além do trabalho do MPF e da PF, há também uma investigação da Polícia Civil do Ceará, batizada de “Educação do Mal”.
A operação apura a suspeita fortemente de manipulação de dados educacionais para majorar o desempenho dos municípios cearenses.
De acordo com as conclusões da Polícia Civil, pelo menos 30 alunos que tinham baixo rendimento na Escola Padre Manuel Lima e Silva foram aprovados, mesmo sem ter notas para isso.
Durante a operação, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na escola.
Boletins escolares e diários de classe foram apreendidos e servidores da Secretaria de Educação de Itapajé passaram a ser investigados, acusados de crimes como associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação pública, prevaricação e condescendência criminosa.
Uma das bases do suposto esquema para burlar o Ideb, de acordo com as denúncias, seria a escolha dos melhores alunos em cada unidade escolar para que eles fossem responsáveis por realizar as provas.
Um ex-aluno da Escola Maria do Carmo Andrade afirmou em depoimento à PF, na segunda-feira 17, que durante os anos de 2015 e 2016 foi convencido a fazer a Prova Brasil em turmas que não eram originalmente suas.
Antônio (nome fictício), de 16 anos, declarou que foi orientado pela coordenação da escola a repassar as respostas a outros alunos que tivessem dificuldades nas avaliações.
No depoimento, ao qual ISTOÉ teve acesso, o ex-aluno declarou que foi procurado em virtude de seu desempenho escolar e que “quando fazia as provas em outras turmas, se passava por outros alunos por orientação da coordenadora da escola”.
Um ex-professor da rede pública de Sobral ouvido por ISTOÉ afirmou que foi pressionado por superiores a aprovar alunos que não tinham coeficiente de desempenho suficiente.
“Teve um caso de um aluno que tinha nota quatro, mas queriam que eu desse seis para ele. Eu simplesmente me recusei”, disse o docente, que também prestou depoimento.
Sobral era tida como referência na educação básica brasileira.
Caberá às autoridades esclarecerem se estamos diante de mais um estelionato político.