DE ÚLTIMA!

Moedas digitais derretem
28/12/2018 - Renan Setti - Época

"Warren Buffett está rindo por último", ironizou a agência de notícias Bloomberg.

Surgido há uma década como forma de dinheiro virtual, descentralizada e fora do alcance de autoridades, o bitcoin deixara de ser uma curiosidade de aficionados para se transformar em ubíquo objeto de cobiça.

Foi no fim de 2017, depois de seu valor ter saltado de US$ 1 mil para quase US$ 20 mil em menos de um ano.


PUBLICIDADE


Muitos salivaram sobre o potencial de ganhar fortunas a jato, de Wall Street a uma geração de millennials que vislumbrou no bitcoin a oportunidade de, enfim, vingar-se dos "baby boomers" que lhes roubara os melhores empregos, apartamentos e aposentadorias.

Passado quase um ano, os mais desafortunados da histeria coletiva perderam 80% da aposta, e todos se perguntam após esse Annus Horribilis: o sonho acabou?

"O que está acontecendo é o desmascaramento tardio de todas as mentiras, exageros e fantasias populistas que guiaram a mania que marcou o ano passado", resumiu Lionel Laurent, colunista da Bloomberg.

Apesar do encantamento generalizado, houve vozes destoantes de peso.

O próprio Buffett, megainvestidor conhecido como Oráculo de Omaha, sempre disse que o valor do bitcoin era esvaziado de fundamentos, resultado de mera especulação.

Alan Greenspan, ex-czar monetário dos EUA, chamou o bitcoin de "moeda não racional" comparável à jogatina de Las Vegas.

Entre os críticos, a unanimidade era que a valorização de 2017 apresentava sintomas claros de uma bolha financeira.

Bolha ou não, o que é certo é que algo estourou no universo do bitcoin.

Cotada a cerca de US$ 3.800, a moeda virtual sofreu, de janeiro até a primeira quinzena de dezembro, desvalorização de 80%.

O conjunto das chamadas criptomoedas – existem cerca de 1.600 moedas virtuais semelhantes ao bitcoin – já perdeu US$ 700 bilhões em valor no ano.

Trocando em miúdos, é como se oito Petrobras tivessem evaporado da Bolsa de Valores.

Atualmente, todas as criptomoedas valem menos de US$ 140 bilhões, frustrando a expectativa dos entusiastas de que passariam da casa do trilhão neste ano.

O analista cambial Stephen Innes, da corretora Oanda, previu que o bitcoin seguirá sendo negociado entre US$ 3.500 a US$ 6.500 no curto prazo e que há chances de ele cair a até US$ 2.500 em janeiro.

A comunidade em torno do bitcoin elenca uma série de justificativas para a desvalorização.

Uma delas é o aperto regulatório.

A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, tem imposto restrições a empresas que tentam levantar capital junto a investidores por meio do lançamento de novas moedas.

“No Brasil, um dos exemplos desse aperto é a consulta pública que a Receita Federal abriu sobre bitcoins.

A Receita está tentando implementar controles, o que é normal, mas alguns operadores do mercado acharam o que foi proposto para evitar sonegação excessiva�, citou Tatiana Cassed Ticami, advogada do escritório S. Barbosa e autora de "A revolução das moedas digitais: Bitcoin e Altcoins".

“Mas todos sabiam que uma maior regulação viria. Seria utópico demais achar que não."

Compartilhe: