Janot, de 62 anos, deverá receber um valor bruto mensal equivalente ao último salário da ativa, de R$ 37,3 mil – seis vezes mais que o teto de R$ 5.839 do INSS, o sistema destinado aos trabalhadores do setor privado.
Caso 2 – A ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ex-corregedora-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Eliana Calmon aposentou-se no fim de 2013, encerrando uma carreira de 38 anos no Judiciário.
Conhecida por suas denúncias contra o que chamou de “bandidos de toga†e por sua atuação contra os “penduricalhos†recebidos por magistrados, como o auxÃlio-moradia, Eliana, de 74 anos, conseguiu garantir uma aposentadoria bem mais alta que o teto do INSS.
Em novembro (último dado disponÃvel), ela recebeu um benefÃcio de R$ 32,1 mil, correspondente ao seu último salário, corrigido pelos mesmos Ãndices de quem ainda trabalha na área.
Apesar do pouco tempo que passou na Câmara, Dirceu, hoje com 72 anos, aposentou-se em dezembro de 2017, com um benefÃcio mensal de R$ 9.646.
Se não pode ser considerada como uma pensão de marajá, sua aposentadoria foi obtida com regras diferenciadas, disponÃveis apenas aos parlamentares vinculados ao generoso plano de seguridade do Congresso.
Mesmo após as minirreformas realizadas nos últimos 25 anos, essas distorções, bancadas com o dinheiro dos pagadores de impostos, continuam a existir no sistema.
Julgando em causa própria, magistrados e procuradores entendem que os complementos que recebem não estão sujeitos ao teto, nem na ativa nem quando se aposentam.
Alguns conseguiram se aposentar com ganhos de R$ 8,8 mil em valores atuais, equivalentes a 26% dos subsÃdios dos parlamentares, depois de apenas oito anos de mandato e com 50 anos de idade, sem necessidade de acumular 35 anos de contribuições.
No Executivo, os servidores contratados antes de 2003 – quando uma das mini-reformas mudou as regras do jogo para os novos funcionários – ainda podem se aposentar ou já se aposentaram com o salário integral e o direito de receber reajustes concedidos aos que continuam trabalhando, como Janot e Eliana.
Apesar de os 642 mil inativos civis do Executivo federal representarem só 2,1% do total de 31,3 milhões de benefÃcios, eles respondem por 14,8% do rombo nas contas previdenciárias.
“Há um enorme estoque de funcionários que entraram no setor público antes da reforma de 2003. Vários já se aposentaram e muitos ainda vão se aposentar com regras extremamente favoráveis.â€
Na visão de alguns juristas e estudiosos da Previdência, as novas gerações terão de custear as “mordomias†dos servidores inativos e dos ativos que ainda poderão se aposentar com regras benevolentes, bem como de seus pensionistas.
Sob o escudo do chamado “direito adquirido†– essa figura do sistema jurÃdico do PaÃs que aceita quase tudo – eles teriam cobertura para manter as regalias, mesmo que, do ponto de vista moral, elas pareçam injustificáveis.
Mas, segundo as mudanças incluÃdas na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) enviada pelo governo ao Congresso, os servidores já aposentados e os pensionistas estarão sujeitos à cobrança de uma alÃquota adicional progressiva, igual à proposta para os funcionários da ativa. Quem ganhar mais pagará mais.
“É uma forma de reduzir os valores lÃquidos pagos aos servidores aposentados e aumentar a arrecadação do sistema.â€
"Tem de analisar o sistema como um todo"
Procurados pelo Estadão para comentar as condições de suas aposentadorias, Rodrigo Janot ex-procurador-geral da República e Eliana Calmon ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ex-corregedora-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afirmaram que elas foram solicitadas e obtidas conforme a legislação em vigor.
“Tem de analisar todo o sistema de remuneração, que se reflete no perÃodo da aposentadoria.â€
Ele afirmou que, hoje, os servidores públicos mais antigos – aqueles que, como ele, podem se aposentar com o último salário da ativa e receber os mesmos reajustes dos funcionários que continuam em atividade – pagam 11% sobre o salário bruto para a Previdência, enquanto os trabalhadores da iniciativa privada pagam de 8% a 11%, conforme o rendimento, mas limitados ao teto do INSS, de R$ 5.839.