CURTO & GROSSO

Edição de 14/10/2002

Marcos Antonio Moreira -- fazperereca@yahoo.com.br

Sem aviso – como de hábito neste primeiromundão, onde cada um faz o que quer e fica tudo por isto mesmo --, Furnas abriu as comportas da represa da Usina de Manso, antecipando a inundação e provocando prejuízos econômicos e ambientais nos pantanais de Santo Antonio de Leverger, Barão de Melgaço e Poconé.

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Furnas, que anos de 2000 e 2001 provocou o esgotamento dos leitos dos rios Manso e Cuiabá à jusante da barragem para acelerar o enchimento do reservatório, agora promoveu a abertura das comportas para “abrir espaço” na represa de 44 mil hectares para receber a água na próxima temporada de chuvas.

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Normalmente, através das comportas do reservatório da Usina de Manso são liberados algo em torno de 70 metros cúbicos por segundo e, nos últimos dias, está liberando em torno de 200 mil litros/segundo.

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A lâmina dágua, no chamado Pantanal do Rio Abaixo, está cerca de 1,5 metros acima do nível normal para esta época do ano.

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A súbita elevação da água apanhou os fazendeiros e ribeirinhos de surpresa, obrigando os criadores a antecipar a retirada do gado para as áreas mais altas – chamadas “cordilheiras” --, o que normalmente ocorre no início de novembro.

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Muitos fazendeiros não conseguiram “recolutar” o gado a tempo, deixando um número ainda não calculado de cabeças ilhadas.

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O transtorno provocado pela decisão de Furnas, contudo, não se resume aos prejuízos econômicos.

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Nesta época do ano, várias espécies de aves e quelônios se reproduzem depositando seus ovos nas praias às margens das baías e nos bancos de areia ao longo dos rios e corixos da planície pantaneira. O mesmo se verifica com os jacarés, que fazem seus ninhos sob a vegetação ciliar.

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Ao manipular a seu bel prazer o fluxo natural das águas, provocando a inundação fora de época dessas praias, bancos de areia e demais áreas de nidificação, Furnas não permitiu a eclosão dos ovos, interrompendo o ciclo de reprodução e rompendo criminosamente um dos elos da cadeia natural.

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Os prejuízos, ao que tudo indica, não vão ficar circunscritos ao Pantanal do Rio Abaixo.

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A decisão de Furnas, no auge da temporada das águas -- meses de janeiro/fevereiro de 2003 -- deverá provocar, também, a inundação de áreas ribeirinhas na Capital, Várzea Grande, Santo Antonio de Lverger e Barão de Melgaço, a primeira dos novos século e milênio.

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Exatamente o contrário do que alegou Furnas para "justificar" a construção da Usina de Manso: acabar com as inundações de áreas habitadas.

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Com a palavra, a Fema, o Ibama e o Ministério Público.

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