CURTO & GROSSO

Edição de 17/02/2006

Marcos Antonio Moreira -- fazperereca@yahoo.com.br

Com o conhecimento e o consentimento do Exmo. Sr. Dr. Governador, a Secretaria Estadual de Fazenda estabeleceu uma espécie de “parceria caracu” com os frigoríficos de Mato Grosso.

Aparentemente – só aparentemente -- , foi um bom negócio, porque os donos de frigoríficos concordaram em recolher, a título de estimativa de receita, 97 milhões de reais de ICMS, em 2006, contra apenas R$ 70 milhões, em 2005 – um “incremento” de cerca de 30%, portanto.

Estaria tudo muito bom, estaria tudo muito bem, não fosse por um “pequeno” detalhe:

Segundo números do próprio governo -– mais exatamente do Instituto de Defesa Agropecuária -– no ano passado foram abatidas cerca de 4,5 milhões de cabeças e, para este ano, o número não deve ser muito diferente.

Estabelecendo-se em 800 reais o preço médio da carcaça, teremos aí algo parecido com R$ 3.600.000.000,00 (três bilhões e seiscentos milhões de reais), em 2005.

Considerando-se a alíquota de 12%, a estimativa de receita de ICMS do setor pecuário, no ano passado, computados apenas os abates, deveria ser de 432 milhões de reais e não minguados R$ 70 milhões -- só de bovinos, “que é o boi”, como gosta de “esclarecer” o grande filólogo Jotaverissimossaurus.

Sem contar porco, galinha, cabrito, pato, peixe, jacaré, gato, cachorro, papagaio e outras “égüarias”.

Trocando em miúdos:

Para não ter o trabalho de fiscalizar apenas 26 frigoríficos, em 2005, o governo de Soja Majestade abriu mão de R$ 362 milhões de reais.

E vai na mesma toada, em 2006.

E não estamos falando de dinheiro que precisa ser cobrado, aquela latomia toda.

Basta só mandar um fiscal recolher, pois o ICMS é descontado do valor pago ao pecuarista no ato da compra.

“Só panhá”, portanto.

Melhor ainda:

Sem qualquer possibilidade de que os frigoríficos possam alegar ¨prejuízo¨ ou improvisar desculpa para elevar o preço e esfolar ainda mais o lombo do consumidor.

Bueno...

É no mínimo estranho que um cidadão acostumado a lidar com bilhões – o megaempresário Blairo Maggi, no caso, sempre tão zeloso, atento e rigoroso quando se trata de seus negócios particulares –, na condição de governador, por “distração”, tenha concordado com tais “estimativas”, escandalosamente lesivas ao Erário e ao interesse público.

Só para se ter uma idéia:

Apenas com os 362 milhões de reais que o governo estranhamente deixou de arrecadar, em 2005, por conta desta “parceria caracu” – o tipo de “parceria” em que os frigoríficos entram com a cara e nós, o povo, com o resto – daria para construir 36 mil casas populares ou pavimentar mais de mil quilômetros de rodovias estaduais.

O pior de tudo é ainda ter que agüentar Soja Majestade chorando miséria, por conta da “queda na arrecadação”; o secretário estadual de Fazenda e funcionário do Grupo Amaggi – que cismou que é cantor --, zanzar por aí tocando viola de papo pro ar, enquanto quase meio bihão de reais escoam pelo ralo.

Francamente!...

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