A ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, conversou com a Coluna do Estadão nesta quinta sobre o requerimento que protocolou no governo no qual compara sua situação com a de um trabalhador escravo por ter parte do salário glosado pela lei do abate teto.
A ministra diz que é seu direito receber o valor integral para trabalhar como ministra porque o cargo lhe impõe custos como se “vestir com dignidade” e “usar maquiagem”.
Ela não se arrepende de ter comparado seu caso ao trabalho escravo. “Todo mundo sabe que quem trabalha sem receber é escravo”, diz.
Muita gente está desanimada com o cenário para as eleições presidenciais de 2018. E – quer saber? – o quadro, visto de hoje, mostra uma polarização perigosa.
Esclarecendo: uma polarização não é, necessariamente, perigosa. Não raro as sociedades ficam diante de opções opostas, entre uma agenda liberal e outra de esquerda, por exemplo.
O perigo é quando as agendas são mentirosas, quando os candidatos mais fortes se desviam das principais questões e vendem soluções fáceis.
O emprego, tal como o conhecemos, passa por rápidas transformações, à medida que o setor de serviços segue absorvendo a maior parte da mão de obra e à medida que a tecnologia de informação, a internet, a inteligência artificial e toda sorte de aplicativos transformam as atividades profissionais.
Luislinda Valois, dos Direitos Humanos, apresentou ao governo um pedido para acumular o seu salário com o de desembargadora aposentada, que lhe garantiria vencimento bruto de R$ 61,4 mil.
Em 207 páginas, ela reclama que, por causa do teto constitucional, só pode ficar com R$ 33,7 mil do total das rendas. "É pouco", reclama.
A ministra diz que essa situação, “sem sombra de dúvidas, se assemelha ao trabalho escravo, o que também é rejeitado, peremptoriamente, pela legislação brasileira desde os idos de 1888 com a Lei da Abolição da Escravatura”.
Ao citar a Lei Áurea, a ministra Luislinda comete um deslize. Ela diz que a norma “recebeu o número 3533”, quando a lei sancionada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888 é a 3353.
Ao dizer que o comando da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro está à mercê de um “acerto com deputado estadual e o crime organizado” e que os “comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio”, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, comportou-se como se ministro da Justiça não fosse.
Torquato Jardim recusou-se a dizer de onde tirou as informações que basearam sua crítica “pessoal”, mas afirmou que “existe um serviço de inteligência sobre tudo o que eu falo” e que não pode dar mais detalhes em razão de “confidencialidade” – senão, disse ele, vira “coluna social”.
Se realmente estivesse preocupado com o sigilo de investigações em andamento, o ministro da Justiça não teria se entregado ao mexerico.
Já que o fez, então que assuma a responsabilidade, quer dando os nomes de quem suspeita, quer deixando o Ministério, para ser substituído por alguém que tenha mais cuidado com o que fala.