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ENTREVISTA

Felipão dá a receita do pentacampeonato
20/12/2001 - Eduardo Acquarone e Tatiana Ramil*

A receita para um título mundial de futebol na versão Luiz Felipe Scolari inclui padrão de jogo variável de acordo com os adversários, uma organização logística impecável, treinamentos físicos individualizados, convocação oficialmente sem vetos e uma atitude vencedora.

Coloque tudo isso numa panela de jogadores amigos do técnico, acrescente uma pitada de liderança dentro de campo e corra para o abraço.

Detalhe: alguns ingredientes podem ser substituídos. Se você não tiver um líder nato como Dunga, em 1994, é possível formar um substituto.

"Quando tu não tens um líder, tenta fazer um. O Émerson já é líder dentro da Roma, e também é uma pessoa bem ouvida na seleção. O Roque Júnior é um jogador muito inteligente, culto, mas tem que saber se ele quer (ser líder)", afirmou.

"Tem jogadores que não foram chamados porque vinham de lesão e que têm uma liderança fantástica, como é o caso de César Sampaio".

Felipão conversou com a Reuters numa entrevista exclusiva na segunda-feira em um hotel de São Paulo, pouco antes de embarcar para Canoas (RS), onde mora. Não driblou perguntas nem enfeitou nas respostas, jogou simples como sempre fez.

SEGREDOS E TABUS

Depois da classificação sofrida para o Mundial, conquistada no último jogo contra a Venezuela, e uma temporada de entrevistas, Luiz Felipe já não tem mais segredos. Nem tabus.

Nas questões mais óbvias, convocação e adversários, ele traz respostas politicamente corretas na ponta da língua: "(Romário) está entre os atletas que estão sendo observados".

Sem querer causar polêmica, ele negou a existência de veto contra o jogador. "Se eu tivesse veto (contra algum jogador), o Edílson não estaria comigo", disse ele, referindo-se aos desentendimentos que teve com o jogador quando era técnico do Palmeiras e Edílson estava no Corinthians.

O nome de Ronaldo desperta mais simpatia do treinador mas nem por isso o Fenômeno recebe uma resposta fora do arroz com feijão. "Ele tem que jogar mais", diz Felipão, afirmando que Ronaldo poderá ser convocado "para um ou outro amistoso". "Depois de dois anos parado, temos que esperar", admite ele.

É utopia imaginar que o técnico da seleção brasileira tenha alguma intenção de brindar o mundo com o mesmo futebol que o Brasil saboreia nas finais do campeonato brasileiro.

"Jogar alegre é para quando se tem o resultado, porque quando não tem, como é que vai jogar alegre? Jogar para perder não existe. Se em determinado momento para atingir o objetivo tenho que jogar feio, vou jogar feio. O objetivo da Copa é ser campeão".

Nem os jogadores São Caetano ou do Atlético Paranaense merecem o gostinho de sonhar com a Copa. "Para convocar jogadores do São Caetano temos que examinar bem. Se tirarmos essa peça fora do conjunto, ela tem condições de jogar na seleção?", pergunta ele, lembrando que duas das estrelas do time do ABC no ano passado -- Adhemar e Claudecir -- não repetiram o sucesso quando foram negociados.

VENCER OS "TIMES GRANDES"

Felipão acredita que a estratégia da vitória deve ir além dos adversários da primeira fase -- Turquia, China e Costa Rica -- e já faz a lista dos "times grandes" que se alinham entre o Brasil e o título. "Para ser campeão, é preciso ganhar de França, Argentina, Inglaterra. No mínimo".

Luiz Felipe dá pelo menos uma boa notícia aos torcedores quando analisa o caminho da seleção na primeira fase da Copa. "Na Copa do Mundo, não dá para esperar o último jogo para se classificar".

"(Mas) nós temos respeito pelas equipes que vamos enfrentar na primeira fase. A Turquia cresceu muito nos últimos sete, oito anos. A China é treinada pelo Bora Milutinovic, que tem um conhecimento espetacular, e classificou para a segunda fase todas as seleções que levou ao Mundial", diz, acrescentando que a Costa Rica tem um futebol parecido com o que é jogado no Brasil, com bom toque de bola.

Para uma torcida que sofreu humilhações históricas na fase de classificação e que nunca viu um time treinado por Scolari praticar um futebol vistoso, a chegada da Copa anuncia uma temporada de muito sofrimento e paciência monástica.

INSPIRAÇÃO NO TETRA

O time será, como todos já sabem, inspirado na seleção do Tetra e nunca na do Tri. "A determinação e o trabalho do (técnico Carlos Alberto) Parreira em 94 devem ser enaltecidos para o resto da vida. Ele mostrou o que é ser determinado dentro de um esquema e acreditou em seu trabalho".

Parreira conquistou o tetra na Copa dos EUA sem mudar o esquema de jogo durante o campeonato e sem interferir na liberdade de Romário. Scolari dificilmente levará o artilheiro e deve variar esquemas táticos durante o Mundial.

"Vai depender do posicionamento do adversário. Se eu tenho jogadores que possam mudar de características -- por exemplo, um que seja terceiro zagueiro mas possa jogar como volante -- vou trabalhar isso durante os treinos. É provável que eu tenha mais que 11 titulares, mas se conseguir achar 11 jogadores com alternativas táticas... vou manter (o time)".

Romário adoraria tentar mais um título e se encaixaria perfeitamente no esquema de preparação física individualizado que Felipão quer adotar.

"Vamos fazer um trabalho quase que pessoal ou para grupos de quatro ou cinco jogadores. Teremos atletas que vão jogar até o dia 12 (de maio). Eles estarão esgotados fisicamente e até mentalmente, e aí entra um trabalho de manutenção, de inteligência, para colocá-los em boas condições", afirmou.

Alguns lamentam que o baixinho polêmico não faça parte da "panelinha" do Felipão. Os amigos fiéis terão prioridade na convocação para um grupo de 23 jogadores dos quais "15 ou 16 já estão escolhidos".

Luiz Felipe acha que só um time de irmãos pode ir, ver e vencer. "As equipes que têm um bom grupo, sem estrelas, bem organizadas, estão chegando na frente, e nas seleções também acontece isso... é preciso doação do atleta para o companheiro, para a equipe. Tem que formar uma família. Em termos de clube, a gente chama isso de panela."

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*Com reportagem adicional de Mario Andrada e Silva/Reuters

  

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