Há um ano, quando a rua gritava "Fora, Dilma", sabia-se que para o seu lugar iria o vice-presidente, Michel Temer. Ele apresentou-se ao país propondo um governo de união nacional e tornou-se um campeão de impopularidade.
Prometeu um ministério de notáveis, cercou-se de suspeitos e perdeu dois ministros (Romero Jucá e Geddel Vieira Lima) por flagrantes malfeitorias.
Pode-se não gostar de Temer, mas o doutor chegou à cadeira pelas regras do livrinho.
Agora grita-se "Fora, Temer", mas não se pode saber quem irá para o lugar.
Pela Constituição, o novo doutor seria eleito indiretamente pelos senadores e deputados.
Basta que se ouçam as conversas de Temer, Aécio Neves (presidente do PSDB) e Romero Jucá (presidente do PMDB), grampeadas por Joesley Batista e Sérgio Machado, para ver que, sem a influência da opinião pública, daquele mato não sai coisa boa.
Por isso é útil que se exponham logo nomes de doutores e doutoras que poderiam substituí-lo.
A elite não sabe o que fazer do governo quase zumbi de Michel Temer. É o que transparecia até sexta-feira (19), fosse entre donos do dinheiro ou políticos.
Percebia-se muita má vontade com a tarefa talvez incontornável de substituir o governo e muito medo de desastre econômico renovado.
Havia desorientação e reticência, até porque o restante dos políticos ainda não tivera tempo ou informação para calcular o dia depois de amanhã. Ainda não há canoas para embarcar.
Michel Temer, 76 anos, quase 40 deles dedicados à política, não se enquadra na categoria dos desprecavidos. Não teria sobrevivido se o fosse.
Muito menos na dos ingênuos, o que torna inexplicável ter se deixado enredar na armadilha de Joesley Batista, para quem Temer, na noite de 7 de março, abriu os portões do Palácio do Jaburu e do inferno, lançando nas chamas ele próprio, o seu governo e o país.
Ainda que monossilábico, o presidente da República ouviu disparates de um investigado pela Justiça, concordou com o inconcordável, postou-se como cúmplice de relatos criminosos. Nada fez.
A JBS nunca me enganou. Faz alguns anos que a menciono em artigos. Ela recebia muito dinheiro do BNDES. E doava também muito dinheiro para as campanhas políticas. O PT levava a maior parte, mas não era o único.
Primeiro, Michel Temer errou ao dar conversa demais a um cavalheiro que sempre usou a política para abrir portas.
Segundo, erramos nós, jornalistas, que demos crédito a uma transcrição de gravação que não era fiel à gravação, mas lhe atribuía um viés (inexistente) anti-Temer.
Com a sucessão de erros, o país mergulhou numa crise em que não se vê saída.
E, já que falamos de quem errou, falemos também de quem acertou e lucrou com a crise.
Dias antes de explodir a delação-bomba, a família Batista fez festa de despedida em um churrasco regado a champanhe. Só para rapazes.
O clã, que controla o Grupo JBS, não está e talvez nunca tenha estado em Nova York, após deixar o Brasil às vésperas da divulgação da delação-bomba, que pode derrubar o governo de Michel Temer.