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RELEITURA

Durante 30 dias, mais de 15 bilhões verão a Copa do Mundo
09/06/2006 - Hélio Fernandes*

O Brasil é favorito? Conquistará o hexa?

Começa hoje, em Munique, a atração que domina o mundo de 4 em 4 anos, a Copa de Futebol. São mais de 200 países que têm esse esporte como paixão nacional, daí a emoção e a comoção mundial. Não foi sempre assim, a Era Havelange, a partir de 1978, é que mudou tudo. Eleito em 1974 como um ¨sul-americano sem importância¨, começou a trabalhar. Expulsou logo a África do Sul (1976), que não queria disputar a Copa da África ¨para não jogar com negros¨. Havelange foi taxativo: ¨Se não quer jogar com os negros, então não joga com os brancos¨.

Depois, de evolução em evolução, criou isso que está aí: 450 milhões de empregos no mundo inteiro, a euforia geral de 4 em 4 anos, até mesmo antes. A Alemanha, anfitriã, joga hoje com a Costa Rica. O Brasil estréia dia 13, contra a Croácia. Hoje quero apenas debater com os ¨comentaristas¨ que estão na Alemanha e dizem: ¨O Brasil sempre que foi favorito venceu¨. Ha! Ha! Ha!

Vou negá-los, com o conhecimento de quem viu nos variados campos 8 Copas, sem contar a de 1950. E este repórter é o único jornalista no mundo inteiro que em várias Copas via 2 jogos por dia, inédito. Assistia um ao meio-dia, acabava perto de 2, tomava o jatinho que estava esperando, ia assistir a outro. Agora não quis ir, apesar de todos os convites e facilidades. Como dizem os jornalões: ¨O repórter viajou a convite¨.

1950

Franco favoritíssimo, jogando pelo empate (não existe mais isso) em casa, diante de mais de 200 mil pessoas, perdeu. Foi o primeiro título desperdiçado. 30, 34 e 38 não contam, eram 8 países convidados, não havia eliminatória nem classificação. 1942 e 1946, prejudicados pela Segunda Guerra Mundial, em 1950 só podia ser mesmo no Brasil.

1954

Disputamos ainda dominados pelo ¨trauma¨ de 1950. A Alemanha venceu, Beckenbauer já disse várias vezes: ¨Foi a reabilitação da Alemanha, depois do desprezo provocado principalmente pelo holocausto¨. O Brasil era apenas figurante, não passou disso.

1958

Longe de sermos favoritos, ganhamos surpreendentemente. Mas foi preciso a mudança provocada por jogadores e jornalistas. Na final, vencemos a frágil Suécia.

1962

Havia esperança de vitória, mas não favoritismo. Pelé se machucou no primeiro jogo, não entrou mais em campo. Garrincha venceu sozinho, que espetáculo.

1966

O maior fiasco de todos os tempos. Pela primeira vez não passamos da chave, perdemos para Portugal, jamais adversário temível, e para a Hungria, genial de 1954, mas que não sobreviveu ao fracasso dessa derrota. Era favoritíssima, tinha uma seleção fabulosa e não ganhou. Não só não ganhou como não figurou nunca mais.

1970

Foi uma das maiores seleções do Brasil. Não adianta comparar Gene Tuney, campeão do mundo de boxe no primeiro quarto do século XX, com Mike Tyson, espetacular e quase invencível no último quarto desse mesmo século. O Brasil passou fácil pelas eliminatórias, veio a destituição de Saldanha, fizeram leilão do cargo de técnico, acabou com Zagallo. Era incógnita, mas aquela seleção era praticamente invencível, ganhou maravilhosamente.

(Como é muita coisa, amanhã comento ¨a vitória do favoritismo¨, apregoada por comentaristas diletantes. Prefiro corrigir alguns que erram clamorosamente).

No Sportv, inacreditavelmente, um comentarista arrogante e sem muito conhecimento diz: ¨A China está com 2 bilhões de habitantes e não está na Copa¨. A China fala em 1 bilhão de habitantes, a ONU chega a 1 bilhão e 200 milhões. 2 bilhões? Ha! Ha! Ha!

E na mesma ¨mesa-redonda¨ do próprio Sportv, um outro proclama a barbaridade: ¨Esta Copa será vista por 5 bilhões de pessoas, quase a população do mundo¨. Quanta displicência, vá lá. A Copa de 1998, na França, vista por 15 bilhões de pessoas, duas vezes e meia a população do mundo, lógico, somando os que assistirão pela televisão os 64 jogos. A média foi de 250 milhões por jogo. Média, pois alguns jogos tiveram público menor, claro. Mas os 16 que sobram para o mata-mata às vezes tiveram público de 1 bilhão.

PS - De qualquer maneira, o favoritismo não tem ajudado o Brasil. E o tão badalado Parreira só ganhou em 1994 nos pênaltis e na mais medíocre de todas as Copas. A mediocridade pode se repetir.

...

*Transcrito do Jornal Tribuna da Imprensa

  

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