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comTEXTO : 31 de Março, 1964
O dia do golpe
06/11/2005- Talvani Guedes da Fonseca
CAPÍTULO XLVIII
O dirigente pediu atenção para uma história que poderia vir à tona a qualquer momento:
¨Desde o dia 20, pelo que se sabe, a Casa Branca vem preparando um plano, chamado de ¨Contingency 2-61¨, para, no caso de um movimento militar contra a influência comunista no governo, esse golpe, deslocar uma esquadra ao Brasil. Por recomendação de Lincoln Gordon, o governo norte-americano deve estar despachando hoje, para o Brasil, porta-aviões, destróieres, petroleiros, navios de transporte, esquadrilhas de aviões, tudo isso dentro de uma operação articulada em conjunto com os setores brasileiros ligados ao golpe, e isso não é só apoio logístico, os indícios são de que vão participar diretamente, uma força-tarefa com navios-tanque e combustível para dar suporte apoiar o golpe já saiu de lá”.
Silêncio.
“Entende agora por quê estamos aqui, companheirnho?.
E Sarita continuou:
“Porque nós sabíamos disso tudo, e vamos desaparecer, surmir”...
“Essa força aeronaval”, retornou o dirigente, “embarcações americanas preparadas para vir ao Brasil, traz combustíveis para que as forças contra o Goulart não fiquem sem suprimento, e nós soubemos também que o embaixador pediu que armas fossem entregues clandestinamente aos golpistas é capitaneada pelo porta-aviões Forrestal, vem navegando pelo Atlântico rumo a Santos, deve ter zarpado hoje de manhã e estará aqui dentro de onze dias. Soubemos até o nome da operação, é Operação Brother Sam¨.
¨E por falar em navio¨, lembrou o nordestino, ¨´seu Alberto disse que ouviu no rádio o ministério dizer que o movimento dos navios brasileiros que zarparam para o Sul, é rotina, não uma ação relacionada ao golpe¨.
¨O que você acha que vai acontecer, companheiro?¨, indagou Humberto ao dirigente.
¨Desaprovamos a luta armada, mas eu já soube que alguns camaradas da Nacional de Química e uns outros, médicos, do Cardoso Fontes, em Jacarepaguá e mais uns outros, intelectuais, ou estão por fora ou enlouqueceram. Querem reagir, contra-atacar, mas não sabem quem atacar; estão falando em agir secretamente, criaram um comando Maiakovsky, querem servir de exemplo e vão formar uma ´avant gard´, uma vanguarda, parece que até que já têm bombas e outros materiais explosivos, roubaram dois carros, e querem juntar-se a uns sargentos, marinheiros, isto é, aos que não tiverem sido presos, ainda. Ainda não se sabe, mas uma bomba que foi desativada em frente a casa de um general, parece que foram eles que a colocaram. Mal sabem que só eles sobraram... Precisamos de tempo. A nossa fragilidade foi provocada por nós mesmos. Vai ser impossível sem uma organização, sem poder, sem dinheiro. Os sargentos, cabos, soldados, marinheiros que estavam ontem à noite no Clube do Automóvel ao chegar em casa ou aos quartéis onde serviam, foram detidos, e isso aconteceu com líderes sindicais e, pior, conosco. Os nossos dirigentes, que apesar de terem previsto, não preparam o que fazer, os que não fugiram a tempo, estão presos, são procurados em todos os lugares¨.
...
Leia manhã o Capítulo XLIX
Jornalista, escritor e poeta norte-rio-grandense
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