Para os adventícios, antes de tudo, uma explicação: sinuelo é marca e loja de vinhos -- decentes, por sinal. Desde as antigas, porém, é como se define a porção de gado manso, acostumado a ser conduzido, que se junta aos bois ou cavalos bravos com a finalidade de guiá-los até o curral, onde encontram sal no cocho e logo são marcados a ferro em brasa. Daí... babau liberdade para pastar e galopar ao léu pelos prados verdejantes.
POIS BÃO...
O estratagema antigo repete-se na cena rural de hoje, onde ao criador-eleitor cabe representar o papel de leso; aos sindicatos, associações e federações de criadores o de sinuelos, e aos políticos o da boiadeirama, que ferra a todos. Os dois últimos, não raro, desempenham a mesmíssima função no tablado, enquanto ao capiau resta o de bobó, sempre, em sua rotina sobre a velha botina ringideira, a bordo da roupa de brim ordinário cada vez mais rota.
A distância entre a "testa de touro" do peão e a Louis Voitton do boiadeirão é apenas a parte mais visível desta relação que se mantém, sem discussão, embora esgarçada. Contudo, não se limita ao traje. O exercício da função sindical, para um, o patrão, vira meio de vida, uma carreira promissora, enquanto o outro precisa rezar para que a tão ansiada "aposentadura", mesmo minguada, resista à pilhagem revelada pela Lava-Jato.
E agora, com a "Carne Fraca", orar ainda mais para que o desemprego não arrebente o colchete do cercado, pois que o escândalo chegou ao ponto em que está também por culpa de seu empregador que permite que trapaceiros se perpetuem no comando do aparato da representação patronal e encabrestem o voto de filiados e agregados em bloco, não para defender setor tão vital e, sim, pelo capricho de belo dia ser deputado, senador, quiçá até ministro.
Uma singularidade das atuais associações de criadores está no fato de quase não abrigar mais os chamados "puro sangue" -- não confundir com "raças puro-sangue". Todos têm um ou mais interesses paralelos, ou seja, a atividade virou "bico". Mas isto é o de menos. Urge iniciar já o processo de depuração de tais entidades. Virar do avesso e promover uma limpeza como a que se faz com a tripa de porco, a começar do topo da pirâmide -- o que só o pecuarista de raíz sabe e pode fazer.
Os fiscais corruptos presos na Operação Carne Fraca também gostavam de uma boa carne fresca.
Para “aliviar” alguns fabricantes, eles, além de dinheiro, aceitavam suborno em mercadorias nobres.
O chef Junior Durski, proprietário da rede de restaurantes Madero, conta como o esquema funcionava.
Para evitar problemas como a paralisação de seu frigorífico, o Madero submeteu-se ao achaque e passou dar caixas de picanha, filé mignon e hambúrguer a uma dupla de fiscais, além de uma mesada de 2.000 reais a cada um.
Com a Lava Jato cada vez mais no encalço dos políticos, especialmente depois das 77 delações de executivos e ex-executivos da empreiteira Odebrecht, o tema do caixa 2 voltou à tona, com uma incrível variedade de teses e argumentos.
Há quem queira, por exemplo, fazer coro com o PT, que, desde os tempos do mensalão, tenta relativizar a prática, tratando-a como se fosse mero pecadilho contábil, sem maiores consequências para o País e para a democracia.
Corrupção e caixa 2 seriam mundos completamente distintos.
Há duas possibilidades: eles dizem o contrário do que pensam – logo, mentem. Seria grave. Ou eles de fato acreditam em tudo que dizem – o que seria muito mais grave.
Não haverá um único cidadão que deixe de horrorizar-se quando vê despedaçadas e dependuradas carcaças e partes de animais, expostas ao consumo geral, mesmo sabendo que pouco depois irão para a mesa na forma de bifes suculentos ou de costelas apetitosas.
Basta atentar para como se comportam na fila do abate: os berros são lamentos impossíveis de ser esquecidos.
Nova pesquisa encontra sedimentos compostos de fósseis de plantas, na foz do rio, no Pará, que, além de revelarem a possível idade do Amazonas, contribuem para a investigação de como as mudanças climáticas alteraram a paisagem da região.