Todas as vezes que ouvir falar em “recurso estratégico”, ponha a mão no bolso e segure a carteira: alguém, com certeza, está querendo roubar você.
Pode ser gente do governo – tanto faz que seja da situação ou da oposição. Podem ser sindicatos e CUTs.
Podem ser, certamente, empreiteiros de obras públicas loucos para construir refinarias, “complexos industriais” e “plantas” disto ou daquilo.
Podem ser todos os economistas do “campo progressista”, sem exceção. Podem ser intelectuais, professores de universidade, artistas de novela.
Existe à vista alguma coisa que possa ter um valor qualquer? Então, dizem todos os nomeados acima, é “estratégico”.
Vale qualquer coisa, aí. Está na cara que temos de estatizar tudo o que passar pela frente, do trióxido de molibdênio à cachaça 51, pregam os arquiduques do “Brasil forte” – assim fica tudo só para nós.
Em junho de 2013, quando o Movimento Passe Livre liderou marchas nas grandes cidades do país contra o aumento das tarifas de transporte público, mal sabia ele que seria seguido por uma miríade de insatisfeitos com “tudo isso que está aí”.
A mobilização surpreendeu por seu volume e intensidade, abrindo ao país uma nova quadra histórica, em que ainda permanecemos, mas sobre a qual não temos diagnósticos muito claros.
Tal como se passou naquele ano, o atual movimento dos caminhoneiros desafia a compreensão dos analistas, e, embora seja possível apontar algumas de suas causas, é difícil prever seus desdobramentos.
Não são poucos os ângulos merecedores de uma análise crítica quando nos debruçamos sobre a paralisação dos caminhoneiros. A começar pela atuação do governo.