Solução virou problema 25/09/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Escrevi aqui ontem que a presidente Dilma Rousseff não está fazendo nem reforma administrativa nem reforma ministerial.
Ela se esforça apenas para se livrar do impeachment. E o teatro de operações de suas manobras é o PMDB.
Acontece que, como diria um poeta de Minas, “o PMDB não há mais”. A rigor, nunca houve.
PUBLICIDADE
A máxima de que o partido é uma federação é verdadeira. Há um núcleo de ideias comuns, alguns valores gerais que unificam as correntes e só.
Os erros e trapalhadas vão se acumulando. Toda ideia que vem para resolver um problema logo se transforma em outro, aí inesperado.
Pela ordem:
1) Dilma jamais deveria ter anunciado um corte de ministérios sem saber o que cortar;
2) Dilma jamais deveria ter atropelado instâncias partidárias para oferecer pastas às bancadas da legenda;
3) Dilma jamais deveria ter atrelado mudanças no governo à sua permanência no poder -- não desse modo desabrido, desmoralizante.
4) Dilma tem de saber que, da forma como escolheu governar, vestir um santo corresponde a desvestir outro.
As evidências de degeneração estão em todo canto.
Em tempos assim, até Sibá Machado (PT-AC) ronca papo.
Este incrível líder do PT na Câmara, descontente com a perda de poder do seu partido numa eventual reforma -- deve ceder a Saúde para o PMDB e as Comunicações para o PDT e ver três secretarias reduzidas a uma --, reuniu a bancada para pedir nada menos do que as demissões de Joaquim Levy, Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo.
Por que os três?
Bem, querem Levy fora porque, na cabeça perturbada dos companheiros, o ministro é causa da crise econômica, e não a sua consequência.
A Mercadante, de quem ninguém no PT gosta, atribuem as trapalhadas políticas.
E pedem que saia o também petista José Eduardo Cardozo porque acham que ele não comanda a Polícia Federal a contento -- ou seja: livrando a cara de petistas.
Sejamos objetivos: Sibá ser líder do principal partido do governo na Câmara é sintoma de um tempo.
Com todo o respeito, tenho, às vezes, a impressão de que ele nem está inteiramente entre nós, se é que me entendem.
Esse líder pedir a defenestração do titular da Fazenda e de dois ministros petistas quando o governo tenta não cair no abismo econômico e está lutando para acomodar o PMDB para se livrar do impeachment, tudo isso é evidência de uma necrose.
Não tem retorno.
Não deixa de ser emblemático que se tenha adiado para a semana que vem o anúncio da reforma no dia em que o PMDB levou ao ar seu programa político com críticas duríssimas ao governo, apresentando-se claramente como alternativa de poder.
Escrevam aí: ainda que se faça uma acomodação agora com alguns peemedebistas, haverá os descontentes.
Há ainda o risco de outros partidos da base se sentirem injustiçados.
A estabilidade, se vier, será de curto prazo.
Muito bem! Digamos que Dilma não caia…
Ela fica pra quê, perguntaria outro poeta.
Que responderia: “Pra nada!”.
A crise é de tal magnitude que imaginar que possa ser resolvida com um rearranjo de interesses dos senhores da guerra do PMDB é certamente uma nova tolice.
Não é possível haver um governo cuja única meta seja não cair.