Uma das minhas irmãs esteve em minha casa com muita pressa, pois teria que ir ao final da avenida 15 de novembro, no bairro do Porto, para comprar uns vidros de 300 ml de pó de guaraná ralado.
Sua única filha casada, há anos mora em Rio Branco, no Acre, e lá não tem o guaraná.
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Ela me disse que sua filha e marido erraram o planejamento na última compra que fizeram aqui, e ficaram sem o pozinho que vicia.
Quando ela e o marido não tomam o copinho do guaraná ralado, o dia fica perdido.
Os cuiabanos antigos usavam o guaraná, que era ralado em casa dando um sabor muito mais gostoso que o industrializado.
Alguns preferem o guaraná ralado que vem de Poconé.
Na minha casa fomos educados tomando o cafezinho e depois de casado minha mulher só bebia o café.
Teve uma época da minha vida, nem me lembro quando, que usei o guaraná em pó, que comprava ralado.
Sem motivos parei de usá-lo e a xícara com café só bebo após aos almoços da família nos sábados, ou por ocasião de receber alguma visita.
O pó do guaraná é patrimônio cultural de Cuiabá, como o peixe frito e a Maria Izabel.
O guaraná foi descoberto em 1821 por Humboldt em contato com tribos indígenas que viviam na Amazônia, município hoje chamado de Maués.
Os índios consideravam o guaraná sagrado e utilizavam a pasta como remédio.
O guaraná é uma fruta nativa da Amazônia e pode ser tomado em pó com açúcar e água em um pequeno copinho logo ao acordar para dar energias.
Alguns repetem a dose após a sesta após o almoço.
Não se deve tomar à noite, pois retira o sono.
Era muito usado pelos estudantes por ocasião dos exames, especialmente o vestibular.
Governadores costumam oferecer aos visitantes ilustres, em seu gabinete, o guaraná em pó.
Quando recebi o acreano Adib Jatene, acreano, ofereci-lhe guaraná, assim como para o arquiteto Sérgio Bernardes.
Segundo a lenda folclórica da Amazônia, seu uso terapêutico iniciou a ser utilizado, quando um indiozinho foi picado por uma serpente venenosa e ia morrer.
Os mais velhos prepararam uma pasta de guaraná e passaram no lugar da picada da serpente, curando o indiozinho.
Desde então passou a seu utilizado para a cura de uma série de doenças.
Entre nós é mais utilizado para estimular o nosso Sistema Nervoso Central, causando a dependência química na maioria dos seus usuários.
O fruto do guaraná possui três xantinas: a cafeína, a teobromina e a teofilina, substâncias estimuladoras do Sistema Nervoso Central, daí o seu uso em todo nosso território, especialmente nas áreas rurais.
Na década dos anos setenta, Ariosto da Riva, fundador de Alta Floresta, cidade ao norte do Estado, me levou para conhecer uma grande plantação de guaraná.
Até hoje tenho na memória a beleza dos frutos vermelhos das arbustos de guaraná da Amazônia!