As mãos sujas de Lula carimbadas nas costas de Dilma 30/09/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Ah, leitor amigo, como esquecer? Lula carimbou as mãos sujas nas costas de Dilma e, ao fazê-lo, transmitiu-lhe também uma herança e um jeito de ver o mundo.
A que me refiro?
Pois é…
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No dia 21 de abril de 2006, durante a inauguração da Plataforma P 50, em Campos, no Rio, o Babalorixá de Banânia repetiu o gesto de Getúlio Vargas, em 1952, e sujou as mãos de petróleo.
O presidente do passado remoto marcava o início da extração no Brasil; o Apedeuta comemorava a nossa suposta autossuficiência -- ou seja: produziríamos tudo o que gastávamos aqui dessa matriz energética.
Ah, tá bom… Já chego lá.
Ontem, terça, a Petrobras anunciou o reajuste de 6% da gasolina e de 4% do diesel -- isso na refinaria.
Como informa comunicado da empresa, “os preços da gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste anunciado, não incluem os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo estadual ICMS”.
Para o consumidor, certamente será mais do que isso.
Já nem se trata de abordar o estelionato dessa turma.
No dia 4 de outubro de 2013, escrevi um post sobre o aniversário de 60 anos da Petrobras e já tratava aquelas imagens de 2006, as das mãos sujas, vamos dizer, como metáforas.
Título daquele meu texto: “O aniversário da Petrobras e as mãos sujas de Lula, carimbadas nas costas de Dilma. Ou: Eu e Petrobras, 60 anos: endividada e rebaixada”.
Por que eu me coloquei no título?
Leiam o texto.
Eu não me conformava com a gestão da empresa.
Hoje, descascar a gigante, quando existe uma Operação Lava-Jato, é fácil, mas, em outubro de 2013, não era, não.
A operação só seria deflagrada cinco meses depois.
Voltemos aos dias atuais.
Por que em tempos de pressão inflacionária renitente, com a popularidade da presidente beijando a lona e com insatisfações múltiplas nas ruas, a Petrobras reajusta gasolina e diesel?
RESPOSTA: PORQUE IMPORTAMOS COMBUSTÍVEL.
COMO O DÓLAR SUPERA HOJE A CASA DOS R$ 4, a estatal -- na verdade, empresa de economia mista -- voltou a amargar prejuízos.
O combustível que se vende aqui em reais é mais barato do que aquele que se compra de fora, em dólar.
Quem arca com o prejuízo?
A Petrobras.
Durante uma boa parte do governo Dilma, os preços dos combustíveis ficaram congelados para ajudar a diminuir a pressão inflacionária.
O rombo na empresa só com essa brincadeira chegou a R$ 80 bilhões em quatro anos.
Os números da Petrobras, a petroleira mais endividada do mundo, são estratosféricos.
Quando o dólar estava a R$ 3,10, a dívida era de R$ 415,5 bilhões.
Arredondemos, com boa vontade, a cotação atual para R$ 4.
A cada R$ 0,10 de valorização do real, estima-se que o passivo financeiro da companhia cresça R$ 10 bilhões.
Assim, o buraco hoje estaria em R$ 505,5 bilhões.
Mas sigamos: se o Brasil é autossuficiente, como Lula anunciou em 2006, por que é preciso aumentar o preço dos combustíveis em razão do câmbio?
Seria por causa dos insumos para se produzir petróleo por aqui?
Não, leitores!
É que Lula estava contando uma de suas mentirinhas.
O nosso país nunca chegou à autossuficiência.
Pode até ser que as ações da Petrobras se valorizem um pouquinho porque o mercado pode entender que a empresa passou a ter alguma autonomia na relação com o governo.
O preço dos combustíveis é apenas uma das fragilidades da companhia.
Uma outra, que contribui para o seu descrédito, é a obrigatoriedade de participar de pelo menos 30% da exploração do pré-sal, o que impõe à empresa o desembolso de um dinheiro que ela não tem.
O reajuste dos combustíveis, que acaba incidindo em toda a economia, tem, sim, impacto inflacionário.
Por essa razão se fez tanta bobagem no passado.
A Petrobras dá, sim, um sinal de autonomia.
E mais uma mentira do petismo é exposta em praça pública.
É certo que Lula sujou as mãos e que as carimbou nas costas de Dilma, como uma herança.