Procura-se o craque Ronaldinho 20/06/2006
- Antero Greco, Eduardo Maluf e Jamil Chade*
Todos querem saber o que está acontecendo com o melhor do mundo
Entre no site da Fifa e veja as estatísticas dos jogos do Brasil. Vá até o nome de Ronaldinho Gaúcho e observe o número de chutes a gol: dois contra a Croácia e nenhum diante da Austrália. O que há de errado com o melhor do mundo? Essa é uma das perguntas mais feitas pela imprensa internacional desde a noite de domingo.
O craque do Barcelona não foi páreo para Ronaldo na mídia na última semana. A tontura, a má atuação na estréia e os problemas físicos colocaram o colega do Real Madrid no topo dos mais falados. Mas, após 11 dias de Mundial, muitos começam a questionar o desempenho de Ronaldinho e colocá-lo nas manchetes de jornais e chamadas de televisão.
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Por que ele está tão apagado? As apostas são diversas. E várias caem numa velha discussão: o atleta não atua taticamente na seleção do jeito que gosta, como faz no Barcelona. Outros o vêem um pouco cansado. Há quem diga ser normal a queda de rendimento após brilhante temporada na Espanha.
Carlos Alberto Parreira não admite que joguem a culpa no esquema. E tem razão. O meia-atacante desempenha seu papel com total liberdade, embora não venha obtendo sucesso. ¨A diferença é que no Barcelona o Ronaldinho é o astro, o time joga para ele, e, aqui na seleção, ele divide a tarefa com outros jogadores¨, diz o treinador.
As estatísticas podem enganar, nem sempre são precisas. Mas os dois chutes a gol em duas rodadas mostram com clareza a timidez do melhor jogador do planeta nos últimos dois anos. Como o atleta, de características ofensivas, cobrador oficial de falta ao lado de Roberto Carlos e destaque da equipe, pode finalizar tão pouco, participar tão discretamente dos jogos? Parreira não concorda que Ronaldinho esteja mal. Talvez para poupá-lo.
Talvez por acreditar que ele jogue para o time e não se preocupe tanto em aparecer. Mas essa não é a opinião de boa parte das pessoas que acompanham a seleção na Alemanha. ¨Até agora ele não jogou na Copa nem 15% do que joga no Barcelona¨, opina Oscar Ribot, do diário As, da Espanha. ¨Talvez por estar atuando atrás, talvez por estar um pouco cansado, mas não consegue repetir o que faz no Barcelona.¨
Foram poucas as jogadas de impacto do craque de Porto Alegre contra Croácia e Austrália. Além de não chutar a gol, tem tentado poucos dribles, que seriam importante arma para abrir a defesa dos sempre retrancados adversários do Brasil. As atuações apagadas acabam influindo no desempenho do time, que ainda não brilhou na Alemanha, apesar das duas vitórias e da classificação para as oitavas-de-final. ¨Ronaldinho ainda não jogou o que sabe¨, diz David Opoczynski, do Le Parisien, da França.
O quarteto composto por Ronaldinho, Ronaldo, Adriano e Kaká não mostrou nada de mágico ainda. Com exceção do meia do Milan, o restante pouco produziu. A decepção maior é, por enquanto, o jogador do Barcelona, de quem muito se esperava. Chegou à Alemanha, há 15 dias, com o rótulo de grande nome da Copa, praticamente sem concorrente. Goleia os adversários no número de outdoors nas ruas, na quantidade de propagandas em que aparece e no assédio por parte da mídia e dos torcedores.
Não que esteja abaixo de Ronaldo e Adriano. Mas os dois, apesar de titulares, não carregavam tanta expectativa. O Fenômeno ficou parado quase dois meses por contusão na coxa direita e ainda não está na forma ideal. Adriano teve, na Inter de Milão, uma de suas piores temporadas e recebeu críticas pesadas dos italianos.
Ronaldinho, curiosamente, admitiu pouco antes do início do Mundial que estava chutando pouco a gol, nos treinos e nos amistosos, depois de ter sido questionado pelo Estado. ¨Tenho chutado pouco mesmo, vou treinar mais finalizações e chutar mais a gol¨, afirmou, na ocasião. Não colocou, no entanto, seu desejo em prática. Mas tem muito tempo para se recuperar e ainda encantar o público até o fim do Mundial.