PT colhe sua maior derrota em 13 anos 08/10/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Por unanimidade, o Tribunal de Contas da União aprovou o parecer do relator Augusto Nardes, que recomenda ao Congresso a rejeição das contas do governo relativas a 2014.
Esse episódio, mais do que outro qualquer, evidencia o desastre político, tático e estratégico que também é o governo Dilma.
Não pensem que ela é apenas a presidente da recessão, da inflação e dos juros nos cornos da lua.
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Em suma: não pensem que ela é só a encarnação do caos administrativo.
Nunca antes na história “destepaíz” houve no poder figura tão desastrada.
Acreditem: quando ficou claro que Nardes faria um relatório recomendando a rejeição, o governo tinha ao menos três dos nove votos.
Conseguiu perdê-los, tal foi a inabilidade, tal foi a burrice, tal foi a teimosia…
As coisas começaram mal quando o principal argumento da Advocacia-Geral da União, diante do descalabro das contas, consistiu em sustentar que apenas fez o que outros fizeram antes.
É um procedimento ruim de modos opostos e combinados:
1) se for verdade, erros de antes não justificam os de agora;
2) ao se dar tal resposta, cumpre, então, comparar.
E foi o que tribunal fez.
E se constatou que nunca houve nada igual.
As coisas continuaram erradas quando, num desastrado acordão, que passou por Renan Calheiros, presidente do Senado, o governo acreditou que o senador tinha bala na agulha para virar mais dois votos, quem sabe até três.
Na mira de Renan, estariam os ministros Bruno Dantas e Vital do Rêgo.
Observei, então, que, ao se explicitar aquela barganha, restaria aos ministros-alvos votar contra as pretensões do Palácio.
Ou estariam desmoralizados.
As coisas assumiram colorações surrealistas quando o governo, por meio da Advocacia-Geral da União, se mobilizou para tirar Nardes da relatoria, movendo-se em duas frentes: apelando à Corregedoria do próprio TCU, para afastar o relator, e ao Supremo, para impedir a sessão.
Aí a coisa já assumia ares de sandice.
A primeira derrota de Dilma veio pelas mãos de Luiz Fux.
O ministro do STF se recusou a dar uma liminar para suspender a sessão porque afirmou não ter visto motivos para isso.
Não entendeu que Nardes antecipara voto, conforme acusava a AGU.
A segunda derrota se deu no tribunal, quando, por unanimidade, o recurso contra Nardes foi rejeitado.
E a terceira diz respeito ao mérito propriamente: todos os ministros acompanharam o relator, cobrindo-o de elogios.
Os votos se fizeram acompanhar de desagravos.
O relatório de Nardes, infelizmente para Dilma, foi técnico.
O resultado do julgamento acaba sendo histórico porque se trata de recuperar dos escombros a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Mais: o governo Dilma não perdeu apenas para a razão, a matemática, o bom senso, as leis.
Perdeu também para a civilidade política.
O que resta de PT tem de aprender que não se aceitam mais seus métodos -- inclusive aqueles que consistem em selecionar alvos que são do interesse dos poderosos de turno.
Entre a derrota honrada e a vitória humilhante, o governo jogou para obter a segunda. E colheu a derrota com desonra.