Papo de maconheiro 09/10/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Eu vou ser franco. Há coisas que não entendo. Mais precisamente: há pessoas que estão aquém ou além da minha compreensão.
Sou muito obtuso para entender, por exemplo, o que diz Marina Silva, presidente da Rede. Sou esforçado. Chego a submeter seus discursos a uma análise sintática. Nada!
Dilma Rousseff, que foi sua antípoda no governo Lula, está na mesma categoria. Jamais aceitaria ser seu ministro. Entraria em desespero.
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Eu tenho enorme dificuldade de conviver com anacolutos, com palavras soltas, com ilogismos…
Minha mulher, minhas filhas, meus parceiros de trabalho e meus amigos sabem disto: sou tolerante com todas as diferenças do mundo.
Mas preciso desesperadamente que as palavras façam sentido. Ou começo a ficar desagradável.
É por isso que nunca tive paciência com consumidores de maconha.
Eles sempre acham que a gente deveria entender o que supõem ter enunciado.
Meu problema com esse mato não é de natureza moral. Eu diria que é gramatical mesmo.
Vamos ao ponto, que isso já está parecendo papo de maconheiro.
Dilma reuniu ministros, alguns estavam em viagem, ontem, sexta. Exigiu deles fidelidade.
Eu já começo a estranhar aí, né?
Cobrar um comportamento fiel de quem pode ser demitido e só foi nomeado por vontade de quem faz a cobrança foge à minha compreensão.
Outra disfunção deste escrevinhador: tudo o que atenta contra a lógica atenta contra a minha paciência.
Na primeira fala aos ministros depois da reforma ministerial e da sova que levou no TCU, Dilma fez esta declaração estupefaciente:
“Querem pôr em andamento um golpe democrático no país”.
Eu não sei que zorra quer dizer “golpe democrático”.
Se é golpe, não é democrático; se é democrático, não é golpe.
Quando alguém apela à expressão “golpe democrático” está, a meu juízo, tentando cassar prerrogativas da democracia, acusando-as, então, de golpistas, ou tentando desagravar o golpe.
De novo: eu sou lógico. A lógica me deixa preciso. E a precisão me faz parecer um sujeito mau, o que não sou.
Só uma ex-comunista e ex-terrorista como Dilma recorreria a uma expressão como “golpe democrático”, porque é próprio de alguém com esse passado não saber a diferença entre golpe e democracia.
É por isso que ela nunca se arrependeu de seu passado. É por isso que ela não tem futuro no regime democrático.
E não estou apenas sendo retórico.
Ao falar em “golpe democrático”, a presidente soltou um adjunto adverbial: “à paraguaia”, sugerindo que a deposição de Fernando Lugo, no Paraguai, no dia 22 de junho de 2012, foi um golpe.
É mentira! Tratou-se de uma solução constitucional.
Dilma é que aproveitou para, em companhia do banditismo político de Cristina Kirchner, suspender aquele país do Mercosul e abrigar no bloco a Venezuela, então comandada pelo ditador Hugo Chávez.
Desculpem a crueza: esse tipo de fala me dá nojo.
Ah, sim: no encontro, ficou claro também que o governo espera que a base fique muito atenta ao movimento das oposições -- o que me parece, como vou dizer?, prudente.
Jaques Wagner, da Casa Civil, revelou que esteve com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, e que esse diálogo será constante.
Que bom!
Mais: também se assegurou que o governo não resume o PMDB a Leonardo Picciani (RJ), líder do partido na Câmara.
Deus do céu!
A tal reunião, afinal de contas, tratava do quê? De objetivo?
O governo prometeu fazer uma cartilha para ajudar os ministros a defender as pedaladas fiscais…
Wagner chegou a dizer que, em razão da reforma, a “fidelidade do partido ao governo será demandada”.
O que quer dizer?
Não há mato queimado que explique.
Um ser lógico entenderia que, se o governo não for atendido, pode reagir, ora essa…
Afinal, não mudou ministério por isso?
Ficou claro que não é assim.
Se fidelidade não houver, haverá nova rodada de conversa.