Diplomacia fora do eixo 21/10/2015
- MARCOS DEGAUT*
A diplomacia comercial brasileira parece não perceber as transformações pelas quais passa o sistema de comércio internacional, insistindo em estratégia que afasta o país cada vez mais das principais cadeias produtivas globais e reduz a participação no total de trocas internacionais, com prejuízos para economia e sociedade.
Segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil exportou US$ 256 bilhões em 2011, US$ 242 bilhões em 2013 e US$ 225 bilhões em 2014.
A participação no comércio internacional, que já foi de 2,5% do total, agora é de 1,1%.
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Em termos de proporção entre bens e serviços exportados e importados em relação ao PIB, o Brasil (11,5%) só perde para a República Central Africana (10,5%), enquanto a média mundial é de 29,8%.
Não coincidentemente esse período de decréscimo coincide com a queda no crescimento do PIB.
Das 12 maiores economias mundiais, 10 também estão entre os 12 maiores exportadores.
Como oitava economia mundial, o Brasil representa uma das duas únicas exceções, ao ocupar o 25° lugar, atrás de Cingapura (14°), México (15°), Emirados Árabes (16°) e Tailândia (24°).
Deve ser superado por Polônia, Áustria e Indonésia em 2015, todos com PIB bem inferior, o que indica, além de falta de competitividade, a inexistência de uma política industrial coerente e integrada e o desacerto de nossa política comercial externa, apegada a padrões ideológicos e estratégias anacrônicas.
Histórico defensor do multilateralismo, o Brasil se recusa a aceitar a lógica dos atuais fluxos comerciais e a reconhecer que o novo sistema está sendo gestado quase que integralmente às margens da OMC, organização paralisada por burocracia incapacitante, processo decisório lento e interesses conflitantes.
Fora do eixo dos grandes projetos globais, o Brasil não participa das negociações da TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), que ligará comercialmente América do Norte e Europa; da TPP (Trans-Pacific Partnership), que criou imensa zona de livre comércio entre os países da orla do Pacífico; nem da Aliança do Pacífico, zona de livre comércio formada pelos países economicamente mais dinâmicos da América Latina: México, Peru, Chile e Colômbia.
Esse último grupo já formou acordo de livre comércio com Estados Unidos, Europa e China. Sua taxa anual de crescimento do PIB nos últimos cinco anos foi de 4%, enquanto a do Brasil, no governo Dilma, é inferior a 1,5%.
Assim como as exportações nacionais decresceram nos últimos quatro anos, as da Aliança cresceram, em média, 3,5% desde seu lançamento, em 2012, representando 47% das exportações da América Latina.
O Brasil nem sequer participou das discussões para a expansão da lista de produtos cobertos pelo Acordo de Tecnologia da Informação, negociado na OMC, que zerou as tarifas referentes ao comércio de semicondutores, aparelhos de ressonância magnética e tomografia computadorizada, além de 200 produtos eletrônicos, não podendo se beneficiar das novas tarifas.
Atrelado ao Mercosul e a suas economias instáveis e problemáticas, sem estratégia de negociações comerciais, desprovido de competitividade industrial e incapaz de reagir política e diplomaticamente às transformações no sistema de governança comercial mundial, o Brasil cada vez mais se isola comercialmente, perdendo oportunidades, influência e investimentos.
Sem um reposicionamento estratégico de sua política comercial externa, continuará exercendo o papel de coadjuvante de luxo, aplaudindo as iniciativas de países mais assertivos, mas exercendo pouca ou nenhuma influência na elaboração de questões de interesse global.
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*Cientista político, é doutor em estudos de segurança e professor-adjunto na Universidade da Flórida Central (EUA)