Dilma cozinha Eduardo 26/10/2015
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
A jogada mais inteligente de um governo medíocre quando faz política, e desastrado quanto toca a economia, foi a invenção aceita por todo mundo de que Dilma precisa de Eduardo Cunha para salvar-se do impeachment, e de que ele precisa dela para não ser cassado.
Até Eduardo acreditou. Uma espécie de pacto de proteção mútua. Se um dia ele descobrir que foi enganado, talvez seja tarde para reagir.
Dilma tem contra ela as ruas, que lhe conferem a mais alta taxa de rejeição que um presidente já amargou entre nós. Eduardo, a Lava-Jato, o Ministério Público Federal, o Supremo Tribunal Federal (STF) e os formadores de opinião.
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As ruas estão quietas, quando nada porque não creem que o Congresso aprovará o impeachment de Dilma. O resto pressiona Eduardo cada vez mais.
Há uma semana, Michel Temer, vice-presidente da República, abandonou à noite o Palácio do Jaburu, em Brasília, onde mora a poucos metros do Palácio da Alvorada, para que ali se realizasse um encontro secreto – o de Eduardo com Jacques Wagner (PT), ministro-chefe da Casa Civil do governo.
Foi mais um de uma série recente de encontros secretos entre os dois.
De parte a parte, renovaram-se cobranças e promessas de ajuda. Eduardo quer que o governo use sua influência para que a Procuradoria Geral da República e o STF retardem providências a serem tomadas contra ele.
Imagina que assim ganhará tempo para cuidar de sua absolvição na Câmara por quebra de decoro. Quer também proteção para sua mulher e filha, às voltas com a Justiça.
A cadeia, por ora, não o preocupa tanto. Pelas suas contas, longos anos se passarão até que seja absolvido ou condenado.
O tempo jogará a seu favor, aposta em conversa com amigos. Mas não apenas o tempo. Também uma equipe de advogados de primeira que hoje se divide entre o Brasil e a Suíça, ocupada em levantar informações para conceber sua defesa.
Wagner pediu a Eduardo duas coisas: a primeira, que esqueça o impeachment. O governo confia que tem mais que o número de votos suficientes para garantir o mandato de Dilma.
Ainda assim, a abertura de um processo de impeachment seria um transtorno. Segunda coisa: que Eduardo colabore para que a Câmara vote as demais medidas do ajuste fiscal. Para o bem da economia.
Sucedeu ao encontro do Jaburu mais uma série de sinais de que o governo não entrega a Eduardo o que promete.
O STF negou o pedido de Eduardo para que um dos inquéritos contra ele tramite em segredo de Justiça.
Vazaram novos trechos da delação do empresário Fernando Baiano que incriminam Eduardo. Bem como trechos de documentos remetidos ao Brasil pela Justiça suíça.
Na última quarta-feira, ao receber de líderes da oposição um novo pedido de impeachment contra Dilma, Eduardo teve mais uma prova de que sua situação tornou-se mais atraente para a mídia do que o destino da presidente: os jornalistas só queriam ouvi-lo sobre novas revelações que poderão pôr um fim à sua carreira política.
“Por que não perguntam sobre Dilma”? – ele quis saber. Em vão.
Há 15 fins de semana consecutivos que o que resta da imagem positiva de Eduardo vem sendo corroído pela tormenta provocada por ele ao esconder dinheiro de propina em contas bancárias no exterior.
Na hora em que virar réu no STF, a Procuradoria Geral da República poderá pedir seu afastamento da presidência da Câmara. E aí...
Não haverá impeachment contra Dilma que o salve mais.