A recessão não dá trégua. Pelo contrário, generalizam-se a redução da atividade econômica e a perda de postos de trabalho em praticamente todos os setores.
As demissões, antes concentradas na indústria e na construção civil, agora atingem áreas que empregam mais, como serviços e comércio.
Dados do Caged mostram que o fechamento de 185 mil postos formais de trabalho em setembro (ajustado pela sazonalidade do mês) foi o maior até agora em 2015.
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Nos últimos 12 meses, a contagem negativa chega a 1,3 milhão, o pior resultado da série histórica.
A indústria é a campeã de perdas, com 557 mil postos fechados. Mas serviços e comércio, que até junho apresentavam certa estabilidade, acumularam 330 mil demissões só nos últimos três meses.
A deterioração nesses setores, normalmente menos sujeitos a mudanças bruscas, sinaliza persistência da recessão.
O potencial de piora é maior que em outros casos, pois, em conjunto, abrangem 26,5 milhões de pessoas, cerca de 66% dos empregos formais do país – indústria e construção, por exemplo, empregam 8,5 milhões e 2,9 milhões, respectivamente.
O impacto do arrocho no orçamento das famílias se faz sentir no varejo, que teve queda de 5,2% nas vendas em 12 meses.
De carros a supermercados, quase todos os segmentos amargam redução. Em suma, tem-se quase o reverso do bom momento da década passada.
Nesse ambiente de desalento, é preciso distinguir os necessários ajustes conjunturais, em geral dolorosos, dos fatores estruturais.
Sob esse prisma, podem-se vislumbrar perspectivas menos negativas.
A economia está se ajustando rapidamente às novas condições globais.
A queda de consumo interno obriga a uma reestruturação de empresas e consumidores que trará resultados no médio prazo.
Na indústria, há um novo equilíbrio em formação, com câmbio desvalorizado e salários internos contidos.
Isso pode vir a reforçar a competitividade.
Abre-se uma chance para a produção local ocupar espaço de importados e, ao longo do tempo, exportar.
Os excessos dos últimos anos começam a ser corrigidos.
Trata-se de processo ainda longo e doloroso, que já cobra alto preço em termos de redução de renda – e que não necessariamente terá desfecho alvissareiro num horizonte curto.
Para que essas transformações se consolidem, é preciso reduzir a incerteza sobre a política econômica.
Só assim será possível vislumbrar redução de juros e a volta da confiança para investir e consumir.