Com medo do impeachment, Dilma deixa-se humilhar 05/11/2015
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
O que Wagner Pinheiro, presidente dos Correios, fez de errado para ser demitido nos próximos dias como será?
A empresa vai mal sob seu comando? Não. Ele pediu para sair? Não. Desentendeu-se com André Figueiredo, ministro das Comunicações por indicação do PDT de Carlos Lupi? Não.
Dilma nunca foi com a cara dele? Vai com a cara dele, sim.
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Então por que – diabos! – ele será mandado embora?
Porque o PDT, em troca do seu apoio a Dilma, quer preencher todos os cargos importantes do Ministério das Comunicações com gente sua. Entendeu? E a presidência dos Correios é um desses cargos.
Não é gente que está desempregada, passando aperto. Nem gente de qualidade técnica reconhecida e admirada no mercado. Não.
É gente esperta, que conhece os desvãos do poder, e que sabe aproveitar todas as oportunidades de fazer negócios. Bons negócios para si e para o partido.
De dois em dois anos há eleições. E os partidos precisam de dinheiro para enfrentá-las. Os caciques dos partidos precisam se eleger. E – sabe como é! – forrar os bolsos com um pouco de dinheiro.
Pinheiro cederá o lugar ao ex-deputado Giovanni Queiroz, do Pará, um latifundiário ligado ao que existe de mais conservador – a União Democrática Ruralista.
Queiroz teve 68 mil votos para deputado federal no ano passado, mas não conseguiu se reeleger.
É alvo de inquérito que apura crimes contra o meio ambiente e o patrimônio genético. É também alvo de ação civil de improbidade administrativa que apura dano ao erário.
Ganhou fama de um sujeito decidido quando em dezembro de 2013, então deputado federal, participou de uma sessão da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.
Debatia-se, ali, as “as demarcações de terras indígenas no país”. Queiroz (PDT-PA) pediu a palavra e explicou como aconselhava os fazendeiros de sua região a lidarem com os conflitos fundiários:
- O primeiro que reclamar, dá-lhe um cacete, bota em cima de um caminhão e manda devolver.
Disse que em seu Estado, “ninguém mais gasta dinheiro com advogado. [O invasor de propriedade privada] entrou hoje, sai na madrugada do dia seguinte, sai debaixo de cacete”.
Desde que a “nova tática” foi adotada, a questão fundiária se “resolveu” no Pará. “Eu não ouço falar de invasão de terra de um ano para cá”, observou Queiroz.
Por fim, contou a história de um fazendeiro que o procurou pedindo um conselho, pois a sua propriedade havia sido ocupada por 40 trabalhadores sem terra.
- Você quer um conselho para resolver? Contrata uma empresa de segurança. Tem que ser regular, bonitinho, não é contratar pistoleiro não. Bota dentro de um ônibus. Quantos invadiram? 40? Leva 60 ou 80. O primeiro que reclamar, dá-lhe um cacete, bota em cima de um caminhão e manda devolver.
Queiroz é afilhado político de Lupi, o presidente do PDT que já foi ministro de Dilma e que acabou despejado do governo por suspeita de envolvimento com corrupção.
A reaproximação com Lupi, a humilhação de submeter-se às exigências dele, nada disso tem importância para Dilma. No passado pode ter tido. Hoje, com medo do impeachment, ela faz qualquer coisa por apoio.
O loteamento escandaloso do governo avança a boa velocidade. E sob a condição de se manter sigilo a respeito. Às vezes, o sigilo desmorona.