A irresponsável greve dos petroleiros e o aumento acelerado do buraco na Petros (o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras) são evidências de que os problemas da empresa vão muito além da rapinagem posta a claro pela Operação Lava Jato.
Esses episódios atestam o quanto a estatal se tornou uma organização capturada não só por partidos, mas também por sindicatos e parte do corpo executivo, que se valem de posições de comando e influência para impor agenda própria e obter vantagens desmedidas.
São grupos que trabalham em detrimento dos direitos e benefícios dos acionistas – em especial a União, que representa o contribuinte –, ultrajando princípios como gestão eficiente e integridade nas relações com a coletividade.
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A paralisação começou na semana passada e reduziu a produção de petróleo em 400 mil barris diários. Os sindicatos demandam aumento salarial de 18%, um absurdo em relação à calamitosa situação financeira da companhia – para nada dizer da recessão que contamina toda a economia.
Pregam também a suspensão do plano de desinvestimento a partir de toscos argumentos nacionalistas, como se o reequilíbrio da estatal contrariasse objetivos do país.
O que afronta o interesse nacional é a pilhagem da Petrobras, e a esse propósito convém perguntar: de que se ocupou a Federação Única dos Petroleiros nos últimos anos, quando houve o maior escândalo de roubo e incompetência gerencial da história da empresa?
Quanto à Petros, o rombo monta a R$ 10 bilhões, uma escalada de 60% neste ano. Os investimentos renderam 5,8%, abaixo da meta de 10,3% para o pagamento de benefícios aos pensionistas.
A direção da entidade culpa a queda dos preços das ações, citando também as perdas com a empresa de sondas Sete Brasil.
Pode ser, mas cabe avaliar a gestão dos recursos. Um dos critérios mais elementares é a diversificação de riscos.
Se os empregos e proveitos dos funcionários estão ligados aos destinos da Petrobras, por exemplo, não faz sentido que também seus planos de previdência invistam no setor de petróleo.
Ponderações como essa, contudo, dificilmente terão recebido acolhida nas reuniões dos comitês de investimento da Petros.
Nesse capitalismo de compadrio, os fundos de pensão se transformam em meros executores da vontade do governo de plantão, direcionando recursos para os amigos do poder.
Nada disso vai mudar enquanto não houver disposição para levar a cabo verdadeira agenda de modernização – governo e Congresso só poderão destravá-la se resistirem às demandas corporativistas.