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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O vendedor de carne moída
08/11/2015 - BERNARDO MELLO FRANCO - FOLHA DE S.PAULO

O deputado Eduardo Cunha levou oito meses para lembrar que os milhões de dólares na Suíça eram dele.

Dele, não. De um trust, que teve a generosidade de fornecer cartões de crédito para ele, a mulher e a filha gastarem à vontade.

O peemedebista recuperou a memória depois que o Conselho de Ética finalmente instaurou o processo que pode cassar seu mandato.


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Na sexta, ele deu uma série de entrevistas que merecem ser guardadas.

As respostas lembram João Alves, o deputado que dizia ter ficado rico porque ganhou várias vezes na loteria.

Ao jornal "O Globo", Cunha disse que o que ele tem na Suíça não é dinheiro.

"Dinheiro, não. São ativos, são ações, cotas de fundo."

Alguns minutos depois, os repórteres repetiram a pergunta.

Em um lapso de sinceridade, o entrevistado mudou a resposta: "O dinheiro era meu".

O peemedebista admitiu que seus bens no exterior "nunca foram declarados".

Mas a lei não manda declarar?

"Se havia obrigação, ela se exauriu no tempo", ele respondeu.

Cunha acrescentou que mantinha o patrimônio "em nome de terceiros", que no Brasil são conhecidos como laranjas.

"Não tinha laranja", ele interveio.

Mas sob que instituto fez os repasses?

"Sob o instituto da confiança", explicou.

À Folha, o peemedebista disse que seu patrimônio milionário "não é nada de mais".

O repórter Valdo Cruz perguntou por que ele recebeu 1,3 milhão de francos suíços (R$ 4,8 milhões) de um lobista do petrolão.

"Não acompanho a conta, não tenho contato com o banco", respondeu Cunha, apesar de ter deixado cópia do passaporte por lá.

"Mas entrou 1,3 milhão na sua conta e o sr. não sabe de quem?", insistiu Cruz.

"O dinheiro não é meu, não fui eu quem coloquei", disse o deputado.

É difícil escolher a melhor desculpa de Cunha.

Minha preferida é a de que ele fez fortuna vendendo carne moída para o Congo.

O homem ajudou a combater a fome na África, e vocês ainda ficam aí criticando.


  

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