Quem come mamona é maluco ou fica maluco quem come mamona? 14/11/2015
- Blog de Augusto Nunes - Veja.com
Concebido pelo senador Roberto Requião e sancionado na quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff, o projeto que regulamenta o direito de resposta tem a carranca do pai e o jeitão destrambelhado da mãe.
Em vez de simplesmente garantir a correção de notícias equivocadas, o desmentido de acusações sem fundamento e a punição de jornalistas que incorrem em delitos arrolados no Código Penal, o texto que virou lei tem tudo para transformar-se num instrumento de intimidação da imprensa independente.
Como informou a coluna de Ricardo Setti em 14 de março de 2012, o senador do PMDB paranaense sempre sonhou com projetos que amordaçam a imprensa.
PUBLICIDADE
Nesta semana, ele conseguiu ao menos restringir a liberdade de expressão com as regras sobre o direito de resposta, que poderá ser invocado se o conteúdo do material publicado atentar, “ainda que por equívoco de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação”.
O palavrório confirma que o filhote de Requião nasceu para confundir, não para explicar.
E a subjetividade dos conceitos amplia a zona de sombra em que qualquer interpretação é permitida.
Tome-se como exemplo o vídeo que eternizou o papelão protagonizado pelo então governador do Paraná em fevereiro de 2006, quando apareceu no Planalto para outro beija-mão em louvor do presidente Lula.
O anfitrião estava eufórico com o desempenho do Brasil no mundo maravilhoso dos biocombustíveis.
O visitante estava eufórico com o tratamento amistoso que lhe dispensava o ex-inimigo.
Confira a cena inverossímil extraída do Jornal da Globo.
Lula estende a Requião um vidro cujo conteúdo tem coloração suspeita.
“É mamona”, previne.
Requião enfia a mão no vidro, captura um punhado de sementes, enfia a coisa na boca e começa a mastigar.
“Isso é mamona, pô!”, espanta-se o presidente, que ri do gourmet de grotão.
“É bom”, balbucia o governador desgovernado.
“Você sabe que isso tem uma toxina que não pode comer?”, alerta Lula de novo.
Só então a ficha cai: assustado, Requião dá as costas para a câmera e cospe no chão o biocombustível do futuro.
Mais revelador que uma biografia de 900 páginas, o vídeo induz a quatro conclusões nada lisonjeiras.
Quem assiste à peça histórica só pode achar que o senador é:
a. sabujo
b. otário
c. doidão
d. idiota
e. tudo isso e mais um pouco.
Seja qual for a opção, o vídeo atenta contra a marca, o nome e a imagem de Requião.
Com a entrada em vigor da lei que pariu, ele pode reivindicar espaços em todos os meios de comunicação que divulgarem a chanchada em miniatura.
É o caso desta coluna.
Para poupá-lo de recorrer à Justiça, o censor aprendiz está convidado a enviar sua versão do episódio.
Os leitores aguardam ansiosamente a resposta à pergunta que não quer calar: quem come mamona sempre foi maluco ou ficou maluco por comer mamona?