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O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

Para quem o cachorro ainda não latiu?
29/11/2015 - Ruy Castro*

Nenhum escritor policial inglês ou americano conseguiria criar sozinho a trama que estamos vivendo sob o nome de Operação Lava Jato.

Nem Agatha Christie ou Raymond Chandler seria capaz de dar conta de tantos plots e subplots, quebras de narrativa, cenas de ação e, como suspeitos, gente com conta bancária de até 11 dígitos.

Sem falar na dança dos coadjuvantes: todos os dias um novo nome assume o primeiro plano. Só não tivemos -- até agora -- um cadáver.


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O primeiro grande personagem foi José Dirceu. Equivalia ao sinistro professor Moriarty, criado por Conan Doyle como o cérebro por trás de tudo de ilícito na Londres vitoriana.

Como um Moriarty com ideologia, Dirceu armou o esquema que drenaria milhões da Petrobras e financiaria um sistema que se eternizaria no poder.

Só que, de repente, Dirceu se tornou um personagem de John Le Carré: revelou sua fraqueza humana.

Aproveitou para também locupletar-se em causa própria e foi apanhado.

Mas o esquema sobreviveu, graças ao caso de amor do partido e de seus aliados com diretores e gerentes da Petrobras.

O resultado foi uma armação de deixar no chinelo as redes de corrupção descritas por Dashiell Hammett em "Seara Vermelha" e "A Chave de Vidro".

A chegada de tubarões como André Esteves, José Carlos Bumlai e Marcelo Odebrecht, por sua vez, conferiu à história uma densidade digna de Frederick Forsyth.

Já o senador Delcídio do Amaral deu-lhe um toque de 007.

Sua tentativa de comprar o silêncio do diretor da Petrobras Nestor Cerveró, tirá-lo da cadeia e despachá-lo para a Espanha num jatinho secreto parece coisa de James Bond.

E todos os fãs de romances policiais sabem que, se o cachorro não latiu para o criminoso, é porque este era conhecido do cachorro.

Só falta, portanto, descobrir para quem o cachorro ainda não latiu.


...

*É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda.

  

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