Custo Lula, custo Dilma 01/12/2015
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG - O GLOBO
Tudo somado e subtraído, a presidente Dilma conseguiu abrir um buraco de R$ 230 bilhões em apenas cinco anos.
Seu governo saiu de um superávit de R$ 128 bilhões em 2011 para um déficit efetivo em torno de R$ 100 bilhões neste ano.
Gastou todo o saldo e mais quase o dobro.
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E para quê?
Para driblar a crise internacional e turbinar o crescimento -- dizem a presidente e seu ex-ministro Guido Mantega.
Crescimento?
Em 2011, quando se fez o superávit primário de 128 bi, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu razoáveis 3,9%.
Nos três anos seguintes, quando supostamente estaria sendo turbinada pelo gasto e crédito públicos, a economia minguou: expansão média de 1,5%, a menor entre os países emergentes mais importantes.
E desabou neste ano para uma recessão em torno de 3%, no momento em que se realiza o maior déficit público da história.
Apesar do baixo crescimento, a inflação rodou sempre acima dos 6% ao ano, contra uma meta de 4,5%, e isso com preços importantes, como gasolina e energia elétrica, controlados e mantidos lá em baixo, na marra.
Reajustados esses preços, porque estavam quebrando a Petrobras e o setor elétrico, a inflação disparou para os 10% deste ano, um número que reflete melhor a realidade.
Finalmente, a taxa básica de juros, reduzida artificialmente para 7,25% em 2012, também para turbinar o crescimento, serviu apenas para liberar mais inflação.
Aí, o Banco Central saiu atrás e puxou os juros para os atuais 14,25% que, embora muito elevados, não conseguem mais conter uma inflação perigosamente indexada.
A gente tem de reconhecer: foi uma obra-prima de política econômica a tal nova matriz.
Pelo avesso.
Gerou ao mesmo tempo recessão, inflação alta e juros na lua.
E o déficit público de R$ 100 bi.
O governo está confessando um rombo de R$ 52 bi.
Mas, para isso, conta com uma receita de R$ 11 bi com a venda de concessões de hidrelétricas -- um negócio que depende de uma MP ainda a ser votada pelo Congresso, que não está nem um pouco animado.
Sem isso, o déficit já passa dos R$ 60 bi -- e ainda é preciso somar as pedaladas, os R$ 40 bi que o governo federal deve ao BNDES, Banco do Brasil e à Caixa.
Assim, o buraco efetivo passa fácil dos R$ 100 bi.
Claro que a recessão derruba as receitas do governo e ajuda no déficit.
Mas houve também muita incompetência.
O governo prometeu vender ativos, de imóveis a pedaços de estatais, e não conseguiu.
Disse que faria dinheiro com a privatização de um elenco de rodovias, portos e aeroportos.
Não saiu uma sequer até agora.
(Sabe como é, tem que preparar a papelada, montar projetos, muita trabalheira…).
O governo contou com dinheiro que depende de aprovação do Congresso (CPMF e repatriação), mas não mostrou a menor capacidade em operar as votações, mesmo tendo distribuído ministérios e cargos em estatais.
É o mesmo tipo de incompetência que derrubou a Petrobras.
Quando Lula era presidente da República e Dilma presidente do Conselho de Administração da estatal, a empresa se meteu em projetos megalomaníacos, da exploração de poços do pré-sal, a refinarias, navios, sondas e plataformas de exploração.
O caso das refinarias Abreu e Lima e Comperj já é um exemplo mundial de má gestão, sem contar a corrupção.
Menos conhecida é a história das sondas.
O governo estimulou a criação de uma empresa, a Sete Brasil, para construir 28 sondas no Brasil.
A empresa, com dinheiro da Petrobras, já gastou mais de R$ 28 bilhões e não entregou uma sonda sequer.
E pior: sabe-se agora que a Petrobras, dada sua capacidade de produção, não precisava desses equipamentos.
Lula e Dilma empurraram a Petrobras para essa loucura.
E para quê?
A produção de óleo da estatal é hoje praticamente a mesma de 2009.
Foi de 2,1 milhões de barris/dia para 2,2 milhões.
Nisso e nas refinarias, inacabadas e precisando de sócios para concluir a metade das obras, a Petrobras gastou cerca de US$ 260 bi!
E gerou uma dívida bruta que chega hoje a US$ 134 bilhões.
Isso é custo Lula mais custo Dilma, consequência de erros de avaliação, má gestão e projetos mal feitos.
No balanço do ano passado, a estatal aplicou uma baixa contábil de R$ 31 bilhões nos orçamentos das refinarias Abreu e Lima e Comperj, por “problemas no planejamento dos projetos”.
E anunciou o cancelamento das refinarias do Maranhão e Ceará, que não saíram do chão, mas cujos projetos custaram R$ 2,7 bilhões.
Eram inviáveis, disse a empresa.
Só isso de explicação?
É, só isso.
A corrupção é avassaladora, mas capaz de perder para a ineficiência.