A política ficará melhor sem ele 01/12/2015
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
Que se prepare a Procuradoria Geral da República: caso o Conselho de Ética da Câmara, hoje, se recuse a admitir a abertura de processo para cassar o mandato do deputado Eduardo Cunha por quebra de decoro, resta-lhe pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que afaste Eduardo do cargo de presidente.
Não que seja obrigação da Procuradoria pedir. Mas seria uma forma de ela corresponder à opinião da esmagadora maioria dos brasileiros que deseja algum tipo de punição para Eduardo.
Na verdade, deseja que ele seja cassado -- mas isso só cabe à Câmara. Ou à Justiça em um futuro bem distante. A Justiça é lenta, como se sabe. E míope.
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Como diria, se pudesse, a ministra Carmem Lúcia, do STF, é “um escárnio” Eduardo continuar circulando como a terceira pessoa mais poderosa da República, somente atrás da presidente da República e do vice-presidente.
Ele perdeu qualquer resquício de autoridade moral para presidir a Câmara. Se é que já teve. Pelo exame do seu passado, é improvável.
Mente-se à farta dentro do Congresso. Mas o único crime pelo qual parlamentares são punidos ali é o de mentir. Os demais passam.
O único senador cassado até hoje foi Luiz Estevão de Oliveira (PMDB-DF). Não perdeu o mandato por desvio de dinheiro público da obra do Fórum da Justiça do Trabalho, em São Paulo, mas por ter mentido aos seus pares.
Eduardo mentiu na Câmara quando negou possuir contas bancárias no exterior -- tinha cinco, pelo menos, quatro delas na Suíça.
E mentiu depois ao defender a esdrúxula tese de que o dinheiro, de fato, era seu, mas não era.
Quer dizer: ele, Eduardo, nada tinha a ver com a administração do dinheiro. Sempre teve. O que é óbvio.
Ninguém usou mais o cargo em proveito próprio do que Eduardo. Até este momento, ele usa o poder de presidente da Câmara para negociar o impeachment de Dilma com o governo e com a oposição.
Quem dá mais?
Quem der mais votos para que ele salve o mandato, levará a decisão de Eduardo de abrir ou arquivar o pedido de impeachment de Dilma.
Impeachment é uma coisa séria. Não pode virar moeda de troca.
Virou nas mãos de Eduardo.
Ele conseguiu desmoralizar um instrumento previsto na Constituição ao usá-lo como meio de barganha suja.
Tudo em que Eduardo mete a mão apodrece. A imagem da Câmara, que jamais foi boa, só piorou depois da eleição dele para comandá-la.