PT e oposição afiam suas armas para a guerra do impeachment 03/12/2015
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
Em um ponto, pelo menos, a oposição ao governo no Congresso e a base de sustentação do governo ali, concordam sem a menor discrepância: a sorte do pedido de abertura de impeachment da presidente Dilma Rousseff acolhido, ontem, por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, será decidida pela pressão popular.
Como pressão popular, entenda-se: a volta às ruas das principais cidades do país das multidões que as ocuparam em junho de 2013 para cobrar melhores condições de vida, e, este ano, para exigir o impeachment de Dilma que se reelegeu mentindo. É para promoverem manifestações pelo impeachment e contra ele que oposição e o PT começam a se preparar.
A oposição vai ignorar Eduardo como o responsável pelo acolhimento do pedido de abertura de impeachment. Ela sabe que ele só o fez depois de chantageá-la para que o salve quando o Conselho de Ética da Câmara se reunir na próxima terça-feira e resolver se admite julgá-lo por quebra de decoro ao mentir aos seus pares. Ele corre o risco de ser cassado.
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Da mesma forma, a oposição também sabe que Eduardo chantageou o governo para que lhe garantisse votos capazes de preservar seu mandato. “É o impeachment da chantagem”, como observou, indignado, o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), favorável à saída de cena de Dilma, mas contrário ao comportamento escrachado de Eduardo.
É também o impeachment que a maioria dos brasileiros diz desejar. E a isso dará ênfase a oposição. Seu discurso aproveitará as dificuldades que o país atravessa responsáveis pela perda de seis mil empregos formais por dia, uma inflação que ainda não foi contida e o retrocesso nas conquistas sociais que os brasileiros celebraram até o final do ano passado.
O PT e os partidos que dizem preferir a permanência de Dilma no poder até o fim do seu mandato apelarão para o discurso do “golpe”. Rui Falcão, presidente do PT, deu a senha ao postar nas redes sociais: “Os golpistas não passarão”. Impeachment sem que a presidente tenha cometido crime de responsabilidade, como está escrito na Constituição, “é golpe”.
Além de golpe, impeachment usado como moeda de troca, explorado como meio de barganha, não pode ser levado a sério. Menos ainda se o gatilho que disparou o impeachment é um sujeito denunciado na Justiça como corrupto. Um sujeito sem credibilidade nem autoridade moral para seguir sentado na cadeira de presidente da Câmara dos Deputados.
A oposição tentará desqualificar Dilma para derrubá-la. PT e associados tentarão desqualificar Eduardo para, por tabela, desqualificar o impeachment admitido por ele. Quem terá mais chances de vencer a batalha? Façam suas apostas. Hoje, a resposta certa a essa pergunta valeria alguns bilhões de dólares no mercado financeiro.