O impeachment e duas entrevistas: Berzoini e Serra 07/12/2015
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
Planalto baixa a bola; desde que foi deflagrado o processo, é a primeira vez um governista diz coisa com coisa; Serra fala em parlamentarismo
A Folha publica duas entrevistas nesta segunda que tratam da possibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff: a do senador José Serra (PSDB-SP) e a do ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo).
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Evidentemente, querem coisas diferentes. Começo dando relevo ao que disse o petista, chamando atenção dos leitores para o fato de que, a ser uma postura do governo, parece que o Planalto descobriu que é preciso baixar a bola.
Berzoini insiste, claro, na tese furada de que não existem motivos para o impeachment e trata a questão como mera vingança de Eduardo Cunha (PMB-RJ), presidente da Câmara, como se fosse este o autor da denúncia.
É evidente que sabe que está falando bobagem.
Mas ninguém pode condená-lo por tentar defender o governo ao qual pertence.
O tom, no entanto, está muito abaixo daquele adotado pela presidente -- e, por isso, mais prudente.
Berozini fala agora o que Dilma deveria ter falado desde o primeiro dia.
Diz ele:
“A afirmação do governo virá pelo voto. Ou temos votos suficientes para vencer essa parada ou significa que o governo não tem base política para se manter como governo.”
É isso.
Ponto final!
Em vez de sair gritando “golpe” por aí, que procure vencer no Parlamento.
E notem que, nesse caso, vencer pode ser perder feio: se o governo conseguir 172 votos, o outro lado, o que quer o impeachment, perde ainda que conquiste 341.
Ou seja: o vencedor pode ter a metade dos votos do perdedor se for o governo.
Ora, se um governo não tiver nem isso, vai continuar por quê?
Mas que se note, e já tratei disso em outro post: conquistar esse terço não quer dizer governabilidade posterior.
Embora eu discorde, obviamente, de Berzoini, é a primeira reação racional do governo desde que foi deflagrado o processo.
O tucano José Serra também concedeu entrevista.
Desmonta com clareza a bobagem inventada pelo PT de que estamos diante de uma guerra entre Dilma e Eduardo Cunha.
Afirma:
“Não se trata de uma disputa entre Dilma e Cunha. Quem está sendo julgada no pedido de impeachment é a presidente, apenas ela. Cunha irá responder por seus atos, e o processo dele é de outra natureza. Não existe uma escolha entre um e outro”.
Mas Dilma cometeu crime de responsabilidade?
Serra responde:
“Crime de responsabilidade não significa que o chefe do governo seja necessariamente corrupto, que tenha tirado proveito financeiro. Basta não ter tomado as providências para evitar que outros o fizessem. O país está parado, não tem governo. O juízo político não está descolado disso. O pano de fundo do impeachment é a crise econômica, política e moral. É inegável”.
A Folha pergunta em que condições o PSDB apoiaria um eventual governo Temer.
Afirma Serra:
“Compromissos de um novo estilo de governo, com menos barganha. E questões programáticas propriamente ditas. Creio também que ele deixaria claro que não pretende ir para a reeleição. Isso facilitaria a composição. Eu e, espero, o meu partido batalharíamos para preparar a implantação do parlamentarismo a partir de 2018.”
Como sabem os leitores, é inevitável que o país volte a discutir o parlamentarismo.
Parte dos desastres que aí estão se deve, sim, ao regime presidencialista.
De toda sorte, notem que é preciso sair da paralisia para que o país volte a pensar o seu futuro.
E isso só será possível sem Dilma.
Vamos torcer para que o governo não consiga formar aquela minoria de um terço na Câmara que nos manteria condenados à melancolia.