Vivi com minha família dois meses numa sociedade que presta, dois anos atrás, trabalhando nos Estados Unidos. Pouco tempo, posso afirmar. Mas tempo suficiente para constatar que aquela sociedade é igualzinha à nossa; as pessoas acordam, tomam café, beijam os filhos que vão para a escola e seguem para o trabalho. Não se discute política, que é assunto para políticos e afins.
O “povinho bumba de lá” é absolutamente semelhante ao “povinho bumba de cá” e nisso estamos absolutamente na mesma sintonia. O que nos difere – e volto a insistir neste ponto até furar o couro do meu bumbo democrático – é que lá existe OPOSIÇÃO. Simples assim. Existe o contraponto, o discurso alternativo, o outro ponto de vista, o outro caminho e tudo o que esta dualidade permite permitir, num intencional pleonasmo.
Se alguém comete um crime por lá, é legítimo, previsível, cívico e democrático que a outra parte denuncie o que está vendo. Essa é a essência da democracia e não existe nenhuma outra; a eterna fiscalização e vigilância, numa responsabilidade compartilhada entre políticos. A sociedade nem precisa estar vigilante. É opcional.
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Sinto informar aos ignorantes de plantão, mas “o povo nas ruas” não é segurança de nada, em termos de representatividade corporativa. Tivemos por aqui uma ditadura assumida de direita, que acabou polarizando todo o discurso de resistência na esquerda. Essa mesma esquerda que hoje chegou ao poder, disposta a nos fazer pagar uma conta que não fizemos.
Todos alegam uma “suposta” -- eu adoro essa palavra -- “dívida social”, que é a senha para meterem a mão em nossos bolsos por uma “causa” que só enriquece mesmo os seus apaniguados e cercanias. O aparelhamento dos meios é visível. Por outro lado, o discurso de oposição é uma piada de mau gosto.
Corporativos até a medula, insistem em afirmar que o problema é pontual -- este ou aquele político “traíram” os ideais da esquerda, como se esta não fosse a origem de toda a falência administrativa que estamos vivendo. Vou insistir nessa tecla: este governo precisa ser defenestrado de lá, mas esta oposição TAMBÉM.
Graças a ela, figuras como Kim Katiguiri, Rogério Chequer e tudo o que eles começam a representar -- uma representatividade não submissa à ideologia -- são assassinados no nascedouro por uma imprensa esquerdatizada, que não permite vermos o caminho das pedras, tentando sufocar o que é legítimo e o que é uma porta de saída para a nossa combalida representatividade avariada e cúmplice do que aí está.
Os esquerdocratas não vêem saídas porque não querem ver saídas que não sejam pela esquerda. Preferem que o país se dane, desde que não percam a pompa e a circunstância. Preferem governar o ingovernável. Preferem conviver pacífica e cordatamente com ladrões que enfiam o erário na cueca. É claro que essa sintonia e essa cumplicidade desemboca mesmo na crise que vamos vivendo; ela, antes de tudo é uma crise moral, mas não do “povo” e sim de seus representantes.
Notem que aqui mesmo é mais aceitável chamarmos a sociedade de ignorante -- e parte dela é mesmo –-- do que nossos representantes de ignorantes e cúmplices de tudo o que aí está. Se eu me insurjo contra este ou aquele texto que só bóia na superfície, sem atacar o problema em sua real natureza, sou logo rotulado de “conspiracionista”, “vidente”, “ultradireitista” e outras mazelas características de quem não quer que o verdadeiro discurso oposicionista prolifere.
É nojento. Quando essa praga acabar, duvido que essa imprensa e essa oposição que aí está tenham um lugar ao sol, meus caros. Todo vampiro derrete com a luz do dia.