Sem meta e sem Levy 16/12/2015
- Thais Herédia - G1
O governo conseguiu a proeza de abrir mão de dois pilares essenciais para evitar um colapso da economia em 2016.
A presidente Dilma escolheu desfazer o compromisso de promover um corte severo nos gastos públicos para produzir um saldo positivo nas contas no ano que vem.
Assim, a presidente fez, automaticamente, uma outra escolha: o líder de sua política econômica é o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e não seu ministro da Fazenda Joaquim Levy.
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Quando foi escolhido por Dilma, Levy foi amado e odiado pelo mesmo motivo: ele tinha credibilidade junto aos investidores e um plano austero para reequilibrar as contas públicas que contava com todas as maldades disponíveis a um governante: cortar gastos, aumentar impostos, acabar com regalias e reduzir benefícios sociais.
O ex-executivo do banco Bradesco também representava uma virada radical na condução da economia que havia provocado a crise -- que no começo do ano já era feia e prometia ficar monstrenga.
Há meses Joaquim Levy vem contabilizando derrotas, ataques, descrenças, desafetos, ameaças e interferência.
A manutenção da meta fiscal de 2016 parecia ser o último estandarte que o ministro toparia segurar no governo.
Ele fez ameaças veladas e declaradas de que não aceitaria qualquer mudança -- para pior -- no compromisso de superávit primário para 2016.
Ontem mesmo, o ministro chamou de “inconveniente” e “um equívoco” reduzir o compromisso de fazer caixa para voltar a pagar os juros da dívida pública com corte de gastos e não com mais endividamento.
Pelo projeto que será avaliado no Congresso Nacional, a nova proposta cria uma banda de flutuação para o montante a ser economizado durante o ano pelo governo -- que pode chegar a zero!
Não é possível avaliar o tamanho do estrago que a derrota de Levy pode provocar na economia ou na confiança dos investidores.
O grau de investimento já era e parece não fazer diferença na cabeça do ministro Nelson Barbosa -- aliás, foi ele o mentor da Nova Matriz Econômica, projeto do primeiro mandato de Dilma que transformou o Estado brasileiro num Godzilla devorador de competitividade, previsibilidade, produtividade, credibilidade e crescimento.
Estamos terminando 2015 sem meta e sem Levy.
Ainda não há confirmação sobre a saída ou permanência dele na pasta da Fazenda.
Mas também nem importa mais.
Ele já perdeu e não tem mais nenhum dos atributos que encantou quem o amou à primeira vista em janeiro.
Se ele topar ficar, vai ser apenas um enfeite na mesinha de cabeceira da presidente Dilma -- ela dormirá e acordará com a certeza de que não recebeu ordens de ninguém: nem do mercado, nem do patrono, nem da revista "The Economist".