Recessão de 3,6%, inflação de dois dígitos, bicando os 11%, mais de nove milhões sem emprego. Desastres naturais, outros nem tanto. Saúde em pandarecos, Educação ao Deus dará. Corrupção, bandalheira, escândalos em série. Caos na política, incompetência, desgoverno. O ano de 2015 começou torto e terminará ainda mais torto. Veio com defeito de origem, parte dele determinado pelo abuso de mentiras eleitorais do ano anterior.
Tudo que os brasileiros ouviram durante a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff assegurava a bonança. A economia ia crescer, o emprego se multiplicaria, a inflação seria controlada, a miséria extirpada de vez. O país seria a Pátria educadora, o atendimento à saúde chegaria aos patamares da excelência, com médicos para todos - ainda que importados de Cuba - e ambulatórios de especialidades.
Nada parecido com os milhares de crianças condenadas a um cérebro diminuto porque suas mães foram picadas por um mosquito que há muito deveria ter sido exterminado. Nada perto da falta de ataduras e antibióticos. Das cenas pré-natalinas de grávidas encolhidas no chão de um hospital da cidade maravilhosa, a mesma que gasta milhões para fazer bonito para estrangeiros nos jogos olímpicos do ano que vem.
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O faz-de-conta marqueteiro não resistiu nem mesmo aos primeiros dias de janeiro. O desequilíbrio das contas públicas saltou mais fortemente aos olhos e ao bolso e a reeleita Dilma teve de fazer tudo ao contrário do que dizia. E tudo que não queria: parar de gastar e ajustar. Fracassou nas duas frentes.
Por absoluta falta de dinheiro em cofre, cortou investimento, mas só depois de voltar a pedalar. E quase absolutamente nada em custeio, mantendo a obesidade da máquina que consome quase tudo que arrecada do cidadão.
Falou e falou de ajuste. Mas da boca para fora, sem qualquer convicção.
Improvisou, foi para um lado e outro como barata dedetizada. Chegou a propor ao Parlamento um inédito orçamento com déficit. Fritou um ministro da Fazenda e quase nada avançou em 11 meses. Ao contrário, a economia degringolou ainda mais.
E, em velocidade também dilacerante, o ambiente político azedou por completo.
Com o recrudescimento das investigações da Lava-Jato e a possibilidade concreta do impedimento da presidente Dilma, o terror tomou conta de protagonistas de primeira grandeza. Do ex Lula e sua prole, de gente graúda do PT e do PMDB. Ao toma lá dá cá que sempre caracterizou a coalizão governista agregou-se a chantagem, tanto dos presidentes da Câmara e do Senado quanto do Planalto. Um espetáculo de baixarias.
Além das ações do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça na caça aos corruptos, o ano se salvou pelas ruas. Os não à Dilma e à roubalheira, vestidos de verde-amarelo e empunhando bandeiras do Brasil, tomaram as ruas por cinco vezes no ano, em uma delas, com mais de dois milhões de pessoas. Os pró-governo, com seus jalecos e bandeiras vermelhas da CUT -- primeiro tímidos e agora com mais vigor --, também cobriram o asfalto. E os dois lados prometem voltar.
Para a paúra de muitos, a Lava-Jato, que condenou mais de 30, recuperando alguns dos milhões roubados da Petrobras para financiar o PT e aliados e encher bolsos dos amigos, deverá continuar importunando os poderosos.
Para a maioria dos brasileiros, esse é o maior alento.
Ao governo Dilma, as esperanças são outras: aprovar a nova CPMF e livrar-se do impeachment.
Contando com muita sorte e fé imensa, talvez dê para apostar em 2017.
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Mary Zaidan é jornalista. E-mail: zaidanmary@gmail.com Twitter: @maryzaidan