A esquizofrenia do governo e a agonia do Brasil 15/01/2016
- RAQUEL LANDIM - FOLHA DE S.PAULO
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, começou no cargo com um pé em cada canoa, tornando muito difícil para os investidores decifrar seu discurso. Ele consegue defender, ao mesmo tempo, medidas que parecem inconciliáveis.
Barbosa já disse que o aumento da taxa básica de juros pode ser necessário para controlar os preços, apesar da forte recessão.
Ao mesmo tempo, vem se reunindo com os presidentes dos bancos públicos — BNDES, Caixa e BB — para que ofereçam crédito a taxas atrativas para alguns setores, como os de pequenas e médias empresas, exportadores e construção civil.
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É claro que essas medidas podem ter algum efeito, resgatando empresas e salvando empregos. Mas é difícil entender por que todos os brasileiros devem pagar juros mais altos, enquanto alguns poucos se beneficiam. Sem falar nos prejuízos para os bancos públicos.
Vejamos mais uma amostra dessa "esquizofrenia" econômica.
Barbosa jura que vai cumprir a meta de superavit primário (economia para pagar juros) de 0,5% do PIB neste ano. Vai aumentar impostos, cortar despesas na boca do caixa, fazer a reforma da Previdência.
Enquanto isso, recebe associações de lobby empresarial e se compromete com antigas demandas como a renovação de frota de veículos. O ministro frisa que o governo não pode pagar o subsídio do programa. A alternativa é criar mais um imposto para todos os proprietários de veículos.
De novo, por que todos os motoristas têm que pagar para que um pequeno grupo seja beneficiado, entregando carros que, em sua maioria, circulam sem pagar impostos ou multas?
O pior de tudo é que o governo não consegue enxergar a incongruência dessas medidas, porque não acredita na eficácia do ajuste fiscal e só se curva porque está falido.
Obviamente o mercado fica inseguro, o que mina a credibilidade do Brasil, e retarda a volta dos investimentos privados e do crescimento.
A presidente Dilma diz que tem três objetivos — equilíbrio fiscal, controle da inflação e retomada do crescimento — e que todos têm que ser alcançados ao mesmo tempo.
Na tentativa de agradar ao PT e ao mercado, ela não cura o doente, porque não dá a dose necessária do remédio. Apenas consegue uma sobrevida e prolonga a agonia da economia brasileira ano após ano.