A imagem do Brasil em Davos 15/01/2016
- O ESTADO DE S.PAULO
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, estará na próxima semana em Davos, nas montanhas suíças, para dizer à comunidade internacional como o governo brasileiro espera tirar o País do atoleiro e dirigi-lo para uma nova etapa de crescimento.
Não se sabe se, até lá, os cidadãos brasileiros terão já recebido essas informações. Por aqui, nada muito claro foi dito sobre como iniciar a arrumação das contas públicas, conter o endividamento federal e repor em movimento a desarranjada máquina da produção.
Não basta, por exemplo, anunciar um aumento de crédito mais barato pelos bancos estatais, se os empresários estiverem pouco dispostos a tomar o risco de novos investimentos e de formação de estoques.
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Em poucos dias, no entanto, o ministro terá de pensar em algo mais ou menos convincente para dizer a empresários industriais, investidores, autoridades do mundo rico e jornalistas durante as discussões do Fórum Econômico Mundial.
A tarefa será mais complicada do que simplesmente apresentar os atrativos do Brasil e falar sobre as oportunidades de investimento em infraestrutura e em projetos privados.
Ministros e chefes de governo de países mais dinâmicos e economicamente mais saudáveis também estarão em Davos, nos próximos dias, em busca de empreendedores dispostos a oferecer capital e tecnologia.
Para atrair investidores, o ministro da Fazenda e seus companheiros de viagem terão de cuidar de problemas de imagem – da economia brasileira e, principalmente, do governo.
O Brasil “deixou, por enquanto, de emergir”, disse o chefe de Assuntos Geopolíticos do Fórum, Espen Eide.
O avanço de outros emergentes também foi interrompido, acrescentou – essa frase, em outro contexto, até poderia ser um consolo para os brasileiros.
O caso do Brasil é obviamente mais complicado e tanto os organizadores quanto os frequentadores do Fórum, em geral bem informados sobre economia, sabem disso.
O governo brasileiro deveria ter aproveitado o período de bons preços de commodities e de crescimento mais fácil para cumprir a pauta de reformas, lembrou a economista-chefe do Fórum, Jennifer Blanke.
Mas a oportunidade foi perdida, acrescentou, e reformar em tempos de crise é mais difícil.
Agora será preciso “retornar ao básico” e enfrentar tarefas como reduzir a burocracia, diminuir “as oportunidades de corrupção, tornar o País atraente e construir com novas ideias sua economia”.
Qualquer conversa franca sobre a experiência recente e as perspectivas do Brasil será difícil e, provavelmente, penosa.
O ministro da Fazenda e seus companheiros de missão cometerão uma tolice, quase certamente, se tentarem atribuir a crise econômica brasileira a fatores externos, como a baixa dos preços das commodities.
Outros latino-americanos – chefes de governo e ministros – também estarão em Davos e poderão também mencionar a redução das cotações como um problema importante.
Mas faltaria explicar por que a inflação no Brasil é muito mais alta que na maior parte da vizinhança, a situação fiscal é muito mais grave e o nível de atividade, muito mais baixo.
Só dois outros sul-americanos enfrentam recessão. O Equador foi claramente afetado pela queda do preço do petróleo e pela alta do dólar, depois de anos de prosperidade.
O desastre venezuelano começou há muito mais tempo e é explicável pelos erros e abusos do bolivarianismo.
Em proporções muito menores, a crise brasileira também é atribuível a equívocos até grotescos da política econômica, associados a um estilo peculiar de governo e de controle do Estado.
A corrupção de dimensões épicas e os danos causados à Petrobrás e a outros componentes do patrimônio público estão associados a esse estilo.
As autoridades brasileiras deverão sentir-se abençoadas, em Davos, se forem poupadas desses assuntos.
Mas ninguém poderá reclamar, se os investidores pedirem explicações.
Afinal, é seu interesse entender o jogo, especialmente quando o jogo é aquele narrado pela Operação Lava Jato.