Se o cenário para a decisão desta quarta-feira (20) sobre a taxa de juros já era cercado de complexidade e incerteza, tudo ficou ainda mais nebuloso pela inépcia da comunicação do Banco Central.
Após semanas preparando o país para um novo aperto monetário, o presidente do BC, Alexandre Tombini, deu sinais de que pode mudar de ideia na última hora.
Em procedimento incomum, rompeu-se o silêncio normalmente respeitado às vésperas de deliberações do gênero para a divulgação de nota oficial que comenta a revisão para baixo nas projeções do Fundo Monetário Internacional para a economia brasileira – o FMI espera retração de 3,5% neste ano e estagnação no próximo.
PUBLICIDADE
Disse o documento do BC que as revisões foram "significativas" e serão levadas em conta na reunião do Copom, o colegiado responsável pela definição dos juros.
Difícil imaginar, no entanto, que o órgão tenha sido surpreendido pelas previsões, semelhantes às de boa parte dos analistas domésticos.
O episódio suscitou a especulação de que Tombini tenha se agarrado a um pretexto de última hora para justificar uma escolha entre opções nas quais os custos são mais evidentes que os benefícios.
Elevar a taxa Selic de 14,25% para 14,75% ao ano, como se esperava, significará ameaça de mais recessão e deficit nas contas do governo, com ganho incerto no combate à inflação; um recuo levantará dúvidas quanto à autonomia do BC e a eficácia de sua política.
A própria autoridade monetária havia semeado as apostas numa alta dos juros de 0,5 ponto percentual ao abordar, em sucessivos comunicados, a piora das expectativas de alta dos preços em 2016.
Seus dirigentes empenharam-se em rechaçar a tese segundo a qual a deterioração do Orçamento chegou a tal ponto que os juros tornaram-se impotentes contra a inflação – porque novas elevações alimentariam a dívida pública e a desconfiança do mercado.
Por fim, as pressões oportunistas do PT por providências para o estímulo à economia criaram um motivo adicional para uma demonstração de austeridade.
Mesmo economistas insuspeitos de pendores heterodoxos, no entanto, argumentam em favor da estabilidade dos juros.
O repique dos preços no ano passado, afinal, decorreu principalmente do choque nas tarifas públicas e da desvalorização do real, cujos efeitos tendem a ser decrescentes.
Qualquer opção, portanto, implicará graves riscos. Mas, se política monetária é 98% comunicação e 2% ação, como escreveu Ben Bernanke, ex-presidente do banco central americano, o BC brasileiro não parece disposto a se ajudar.