A presidente Dilma Rousseff (PT) tenciona sair do seu isolamento antes do início da nova temporada política. Vai reunir o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, fórum praticamente esquecido em seu mandato.
Em si mesma, a iniciativa pode se limitar a mera operação de relações públicas – com gestos como o convite ao ator Wagner Moura, da série "Narcos" e dos filmes "Tropa de Elite" – ou um contra-ataque aos defensores do impeachment.
Na melhor hipótese, seria um meio de a presidente, até aqui reclusa e autossuficiente, demonstrar que quer e pode corrigir rumos, refundar seu governo inerte.
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Para que seja convincente, porém, ela tem de demonstrar que se dispõe a mudanças muito mais amplas do que os paliativos que por ora constituem o programa conhecido de seu sexto ano de governo.
O assim chamado Conselhão foi criado em 2003, o primeiro dos anos Lula, com o propósito de aproximar o governo de parte da sociedade que encarava o petista com enorme desconfiança, casos de banqueiros e outros empresários.
Fora isso, o Conselhão era uma espécie de assembleia de representantes de entidades chamados pelo governo a debater políticas públicas. A diversidade de temas tratados e a ausência de prioridades reduziu o aspecto prático do organismo a um caderno de sugestões.
Quanto ao apaziguamento político e social, os anos bons de crescimento, os favores ao empresariado e o aumento da despesa social se encarregaram da tarefa. Dilma Rousseff não poderá contar com nada disso. Ao contrário.
Verdade que o impeachment perdeu impulso, devido ao conflito entre oposicionistas e governistas do PMDB. No entanto, persiste o risco de que maus humores sociais reavivem a tensão ou que a presidente tenha de enfrentar um processo de cassação no TSE.
Além do mais, o tumulto na seara partidária deve aumentar com o começo do andamento dos processos de políticos denunciados na Operação Lava Jato.
Prenuncia-se um diálogo difícil com a sociedade civil. A OAB e associações empresariais, por exemplo, acabam de divulgar manifesto em que negam à presidente legitimidade para aumentar impostos, ponto crucial do precário programa econômico do Planalto.
A economia afundará sem freio caso persista a inércia governamental. A oportunidade remota de recuperar apoios ao centro dependerá da apresentação de um grande plano de reformas.
Parece difícil a refundação do governo de Dilma Rousseff.