O presépio da doutora Dilma 27/01/2016
- Elio Gaspari
O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social foi criado em 2003 e é composto por 90 membros. Para a reunião de amanhã, dois titulares tiveram que ser substituídos, pois Marcelo Odebrecht e José Carlos Bumlai estão na cadeia.
Também estão trancados o ex-conselheiro João Vaccari Neto e José Dirceu, que assinou o ato de criação do organismo. É difícil imaginar outro grupo de noventa pessoas com semelhante desempenho.
Para se ter uma ideia do que significa uma porcentagem de 2% de presos, vale lembrar que a taxa de brasileiros encarcerados para cada 100 habitantes é de 0,3%.
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O Conselhão pretendia ser um foro de debates. Tornou-se um pastel de vento a serviço da propaganda de um governo cuja titular diz que "o Brasil não parou, nem vai parar".
Os pibinhos e a recessão aconteceram no Burundi. É uma marquetagem tão inútil que, desde julho de 2014, a doutora Dilma não o convocava.
Uma reunião de 88 pessoas serve para apenas fotografias de um consenso inexistente. A menos que se considere consenso o fato de estarem todas sentadas.
Quando o Conselho foi criado, nele estava a atriz Lucélia Santos. Foi substituída por Wagner Moura.
Pelo lado dos empresários, lá estará Jorge Paulo Lemann. Certamente ele tem algo a dizer, mas da última vez que foi ao Planalto a doutora deu-lhe um chá de cadeira de mais de uma hora.
Até aí pode-se pensar que tenha surgido algum imprevisto. O problema muda de figura quando se sabe que mandaram uma funcionária fazer-lhe sala e ela dirigiu-se a Lemann em inglês.
Coube a ele explicar que foi criado nas ondas de Ipanema. O surfista do século passado tornou-se o homem mais rico do Brasil porque a AB InBev produz e exporta gestão, exatamente o que falta ao governo da doutora.
Ele acaba de anunciar que adiou o cumprimento da meta anunciada em novembro de visitar todos os domicílios do país até o fim deste mês para combater o mosquito do zika. Lorota.
O que houve foi o colapso de uma promessa impossível de ser atingida. Na melhor das hipóteses foram a 15% das casas.
Houve burocrata sugerindo que, para evitar o risco da microcefalia, as mulheres não engravidem. Como o mosquito está no Brasil há mais de um século, a providência extinguiria a população de Pindorama.
Depois veio o ministro da Saúde, torcendo para que as jovens sejam infectadas pelo vírus antes da idade fértil, pois assim adquiririam imunidade.
Como Brasília comanda espetáculos, em dezembro a doutora assinou o Decreto 8.612, criando uma Sala Nacional de Coordenação e Controle para cuidar do mosquito.
Ela funcionaria no Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional.
A sala mágica seria habitada por representantes de seis ministérios, dentro do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia que por sua vez tem três "eixos": "Mobilização e Combate ao Mosquito, Atendimento às Pessoas e Desenvolvimento Tecnológico".
Aí está a essência da gestão da doutora: havendo um problema (o mosquito), lança-se um plano de enfrentamento, cria-se uma sala de controle anexa a um centro de gerenciamento e daí em diante o assunto é dos outros.
Se nada der certo, convoca-se uma reunião do Conselhão para mudar de assunto em busca do que o Planalto chama de "agenda positiva".