Ligou! 28/01/2016
- Juca Kfouri - Folha de S.Paulo
Começou a Copa Sul-Minas-Rio.
Mais importante que os resultados dos jogos, entre Galo x Flamengo, Inter x Coritiba, Fluminense x Furacão e Criciúma x Cruzeiro é o gesto de enfrentar a CBF e a Federação Estadual do Rio de Janeiro.
Só no Brasil de três presidentes da Casa Bandida do Futebol réus na Justiça americana, um preso e outros dois impedidos de sair do país, os placares de três clássicos nacionais, entre campeões do Brasileirão, são menos relevantes que o simples fato de os jogos acontecerem.
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Em posição de fragilidade, a Casa Bandida esperneia com as pernas curtas da mentira ao invocar como ilegal algo previsto como legalíssimo na Lei Pelé.
A Primeira Liga, de fato, nem primeira liga é, pois já existe a Liga do Nordeste que realiza, com sucesso, o melhor torneio da região.
Mas é, pela força dos clubes que a integram, com oito campeões brasileiros, as duplas Fla-Flu, Gre-Nal, Atle-Tiba e Galo e Cruzeiro, a que politicamente tem mais força para ser a semente da Liga Brasileira de Clubes.
Faltam ainda, por picuinhas, Botafogo e Vasco, assim como os quatro grandes de São Paulo – estes embalados pela tradição do campeonato estadual, ainda capaz de gerar receitas apesar de sua desimportância técnica, Paulistinha que é.
Da mesma maneira que a arbitragem eletrônica é inexorável, o fim dos estaduais também o é, como mais cedo ou mais tarde, e está tardando, se verá.
A CBF, amedrontada pela ameaças do presidente da Ferj, extrapolou nas bobagens que cometeu ao agir feito biruta.
Agora presidida pelo folclórico coronel Nunes, que desde 1998 comanda a Federação Paraense de Futebol – hoje sem representantes na Série A do Brasileirão, e com apenas o Paysandu na B–, a CBF chegou ao requinte de emitir uma resolução oficial, na qual proíbe a realização da Copa Sul-Minas-Rio, sem a assinatura do presidente, embora em seu sítio apareça o nome dele como responsável.
O que daria margem, segundo advogados que cogitam acionar a entidade, a um processo pelo artigo 299, o da falsidade ideológica, do Código Penal.
Em vez de ficar quieta no seu canto neste início de 2016, a CBF, que em 2015 teve nada menos que quatro presidentes –José Maria Marin, preso, Marco Polo Del Nero, exilado no próprio país, Marcus Vicente, o que nem sobrenome tem e Antônio Carlos Nunes de Lima, que serviu a ditadura e recebe R$ 14,7 mil como "anistiado", como revelou o repórter Lúcio de Castro–, achou de brigar contra oito dos clubes mais populares do Brasil, entre eles o Flamengo, o primeiro.
Nunes, incapaz de repetir em pé o que diz sentado, é tutelado pela dupla de eminências pardas da CBF, Caboclo$Feldman, teleguiada por Nero.
Diante de tudo isso, torcedores do Flamengo e do Fluminense prometem protestar amanhã, dia 29, na frente da Ferj.
Sinal de que a ideia do "ocupa CBF", lançada pelo Bom Senso FC no fim do ano passado, faz escola.
Muito bom porque sem mobilização dos torcedores a direção dos clubes fica sem o necessário respaldo para seguir em frente.
Muito mais eficaz do que invadir treinamentos para protestar contra uma ou outra derrota.