Decididamente, não há lugar no mundo para coincidências nem para probabilidades. Assim é, por exemplo, com certos pratos culinários: são conhecidos por nomes diferentes, mas, na prática, o resultado não varia ─ como diria Haruki Murakami.
Coincidência é a forma encontrada para explicar o inexplicável. Probabilidade é a razão pela qual, a partir de fatos, se chega a uma explicação. Essa diferença não muda o sabor do prato, mas demonstra como foi feito.
A OAS e a Odebrechet são as maiores empreiteiras do Brasil e, também, as maiores fornecedoras da Petrobras. Ambas gerenciaram boa parte dos recursos bilionários do Petrolão, parte dos quais permaneceu nos cofres dessas empresas depois do repasse de propinas ao PT e demais partidos envolvidos na ladroagem. Um apartamento tríplex no Guarujá. Um sítio em Atibaia. E lá estão elas de novo. Só não muda um personagem: Lula.
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A explicação inicial para a aquisição do apartamento evocava cotas que só existem em consórcios. Não é o caso: o que houve foi uma venda, e por isso mesmo declarada no Imposto de Renda. O apartamento tríplex de 250 metros quadrados, de frente para o mar, custou R$ 47 mil. A fila seria de bom tamanho se houvesse outros.
A OAS esbanja incompetência no setor de construção de prédios e venda de apartamentos. Vale lembrar que a reforma do apartamento de R$ 1 milhão e 800 mil consumiu outros R$ 800 mil, também bancados pela OAS. Explicação: era preciso “melhorar” o apartamento para facilitar a venda. O engenheiro responsável pela “reforma” alega ter praticamente construído outro apartamento, e que a família Lula era a única interessada na aquisição.
Isso não teria acontecido porque o apartamento já tinha dono, como comprova a declaração de renda de Lula? E por que a OAS vendeu por R$ 47 mil um apartamento que valia R$ 1 milhão, sem contar os R$ 800 mil da reforma, tudo sem conbrar nada de ninguém?
E o sítio em Atibaia, onde a Odebrecht acaba de aparecer? São R$ 500 mil de material, R$ 90 mil semanais para o pagamento de outra reforma (em dinheiro vivo) e um engenheiro (adivinhem de qual empresa?) que trabalhou nas férias e de graça. A dona da loja de materiais de construção afirma que quem pagou foi a Odebrecht, que finge ignorar a existência do sítio.
O que une a OAS e a Odebrecht, além do Petrolão? Lula, de novo. O ex-presidente que voava nos jatinhos das duas empresas. O menino de recados e lobista tem apreço por extravagâncias: gosta de visitar apartamentos que não compra e de frequentar um sítio pertencente ao filho de um companheiro petista que é sócio de um dos lulinhas. Todas as despesas são bancadas pelas empresas às quais o pai presta serviços e vassalagem.
Apostar em coincidências para explicar casos do gênero é uma ofensa à inteligência de alguém que saiba ler pelo menos uma frase. A probabilidade é o passo que antecede a certeza. Assim, é provável que Lula seja um corrupto que possui imóveis que não teria como comprar com os rendimentos que aufere legalmente. O que liga empresas corruptas e uma quadrilha estatal tem um ponto em comum: ele, sempre ele. Não é coincidência.