O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

O Carnaval da ziquizira
04/02/2016 - Paula Cesarino Costa - Folha de S.Paulo

O Carnaval é termômetro do humor nacional. As marchinhas estão aí colocando nas paradas o japonês da Federal, pedindo para playboy de araque não encher o saco do Chico Buarque e alertando contra a picada do mosquito que deixa o povo aflito.

Ainda bem que o Carnaval chegou mais cedo neste ano.

No intervalo idílico que vai até a Quarta-feira de Cinzas, zika, microcefalia, inflação, demissões, juros altos, Lava Jato, delação, impeachment, crise política, crise econômica e depressão social viram fantasias de um país que se quer feliz.


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Falta saúde, falta honestidade, falta investimento, falta planejamento, falta competência, falta dinheiro, mas não falta humor.

Os desfiles terão menos dinheiro? Ótimo. Viva a criatividade. Alguns blocos desistiram de sair nas ruas do Rio? Paciência. Outros surgirão no lugar. Podia ser pior.

Em Veneza, reduto original do Carnaval, a segurança foi reforçada em torno da praça São Marcos. Envoltos em névoa espessa, os policiais revistam bolsas, usam detectores de metal e pedem até para alguns retirarem as máscaras. A vigilância aumentou por causa dos ataques terroristas em Paris e agressões sexuais na véspera de Ano-Novo em Colônia, Alemanha.

A crise fechou a porta dos aeroportos internacionais para quem não gosta da festa. Com o real desvalorizado, o gasto dos brasileiros no exterior em 2015 caiu 32% em relação a 2014 –só em dezembro, a queda foi de 42%. De janeiro a dezembro de 2015, o dólar subiu quase 50%. Veneza ficou cada vez mais longe.

Por aqui o Carnaval até surpreende. Quem diria que a folia arrebataria São Paulo, um dia o túmulo do samba, com quase 400 blocos e milhares de pessoas provando que as ruas não é só para carros?

Que esse lampejo de civilidade, alegria e criatividade se espraie ano afora. Para enfrentar a crise. Sem ressaca nem ziquizira.

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