Os muito bons e os fenomenais 07/02/2016
- Tostão* - Folha de S.Paulo
Quando o Bayern de Munique contratou Guardiola, após ganhar títulos nacionais e meses antes de ser campeão da Europa, sob o comando do alemão Jupp Heynckes, o clube sonhava que, além de muitas vitórias, se transformaria em uma equipe histórica, que encantasse o mundo. Uniria a magia e a beleza do estilo do Barcelona com a técnica, a objetividade e a disciplina alemã. O Bayern é um grande time, mas não chegou a tanto.
O Barcelona e a seleção espanhola bicampeã da Europa, em 2008 e 2012, e do mundo, em 2010, deram uma grande contribuição ao futebol mundial. Hoje, as melhores equipes tentam associar o estilo espanhol com as preferências de outros técnicos e com as características históricas de cada clube, de cada país e de cada continente.
Guardiola não gosta do termo tiki-taka, como se fosse uma exagerada troca de passes, sem objetividade. A finalidade, além de ficar com a bola e de dar poucas chances ao adversário, é concentrar o jogo em um setor do campo, chamar a atenção da marcação e, rapidamente, mudar a bola para o outro lado, para aproveitar os espaços livres.
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Guardiola é um treinador inovador, detalhista e disciplinado. Como o Bayern enfrenta times muito inferiores no Campeonato Alemão e fica quase todo o tempo com a bola no outro campo, o técnico costuma escalar cinco atacantes, dois no meio-campo e três atrás, que, às vezes, são jogadores de meio-campo, além do goleiro Neuer, na intermediária, para fazer a cobertura. A equipe passa a ter mais jogadores para fazer gols, e a bola sai da defesa com um passe mais preciso. Na prancheta, é o 3-2-5, como no início do futebol.
Guardiola é um grande técnico, mas é excessivamente endeusado, assim como Tite no Brasil, como se não cometesse erros nem pudesse ser criticado.
Em sua ânsia perfeccionista, Guardiola costuma, em um mesmo jogo, escalar jogadores em posições diferentes e usar vários sistemas. Os comentaristas ficam perdidos para dar números ao desenho tático. Treinar jogadores para que eles, em determinados momentos do jogo, executem bem mais de uma função é ótimo. Outra coisa é escalá-los, desde o início, em posições que não são as que atuam melhor.
Lahm e Alaba, talvez os dois melhores laterais do mundo, jogam bem em várias posições, mas não faz sentido escalá-los no meio-campo, onde o Bayern já tem excelentes jogadores, além de não ter bons substitutos nas laterais. O técnico da seleção alemã, Joachim Löw, cometeu o mesmo erro na Copa de 2014. Percebeu o engano, voltou Lahm para a lateral direita, e o time cresceu.
Nas eliminações para Real Madrid e Barcelona, nas duas últimas Copas dos Campeões, o Bayern jogou com os zagueiros quase no meio-campo, como faz no Campeonato Alemão. Os magistrais atacantes adversários deitaram e rolaram, aproveitando os lançamentos nas costas dos defensores.
Na próxima temporada, Guardiola será o técnico do Manchester City, um dos grandes da Inglaterra. Guardiola já sabe, pela experiência no Bayern, que um time com ótimos jogadores pode ganhar importantes títulos, mas, sem ter pelo menos um fenomenal, como Messi e Neymar, nunca vai formar uma equipe histórica, que encante o mundo.
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Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina.