Depois de suscitar o costumeiro bater de panelas nas grandes cidades brasileiras, com seu programa televisivo da terça-feira (23), o PT lembra neste sábado (27), em encontro no Rio de Janeiro, o 36º aniversário de sua fundação.
Dizer "comemora" já seria demasiado, dada a crise moral, programática e política em que o partido se debate. A suspeita de que grandes empreiteiras terão concedido favorecimentos à sua maior figura pública, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já seria motivo de sério constrangimento.
Não havendo, na prática, como dissociar a figura de Lula da sobrevivência política do PT, quaisquer manifestações a respeito dos casos do tríplex no Guarujá ou do sítio em Atibaia acabam tendo de se resumir à versão, habitual e inverossímil, de que o partido e seu maior líder estariam sendo vítimas de uma conspiração persecutória.
PUBLICIDADE
Vire-se a página, portanto – e o que se segue não é mais animador. A prisão do principal marqueteiro do partido, acusado de ter recebido pagamentos de caixa dois oriundos da corrupção na Petrobras, novamente acentua a imagem de que se criou, com a hegemonia petista, uma máquina de espoliação do Estado em benefício da simples ocupação do poder.
Sem ter como se desvencilhar da crise que criou, resta ao PT promover seu afastamento com relação a outra crise – essa que tem o nome de Dilma Rousseff.
Com índices baixíssimos de popularidade, e às voltas com uma recessão talvez só comparável à do início dos anos 1930, a presidente da República não dispõe de recursos pessoais nem de apoio parlamentar para empreender os ajustes necessários – e impopulares – que a conjuntura exige.
A candidatura de Dilma à presidência, em 2010, foi como se sabe criação unipessoal de Lula. Sua reeleição, em 2014, veio pela inércia e pela resistência em adotar, quando a crise já impunha cortes nos gastos do governo, qualquer medida de impacto negativo do ponto de vista eleitoral.
No momento em que se impõe o reencontro com a realidade, o PT se diz traído pelo Planalto – ainda que mal-ajambrados e vagos os projetos de austeridade de que este afirma cogitar.
PMDB e PT, os dois maiores partidos de sustentação do governo, apresentam planos alternativos e contraditórios para resolver o impasse econômico. Tanto quanto Dilma, têm sido, cada qual a seu modo, responsáveis diretos pela crise – dificultando ao máximo qualquer racionalização na esfera orçamentária do país.
Jogam-se, agora, ao salve-se quem puder; talvez mais exato, na proliferação de seus programas e críticas, seria aplicar ao caso outra frase feita, que é rima mas não solução: a do acredite se quiser. A farsa das rupturas e das barganhas, das indignações e das desconversas, prossegue miseravelmente.