Deveria ser evidente que o conhecimento de como funciona o sistema econômico de qualquer sociedade é um problema empírico. Não pode ser deduzido teoricamente porque a evolução de qualquer organização política e do necessário sistema econômico nela embebido são historicamente contingentes. Portanto, não é possível deduzir relações de comportamento dos seus agentes à imagem das "leis" naturais que habitam o mundo físico que, numa certa medida, são atemporais e a-históricas.
É tempo de reconhecer com clareza que passou o momento de crer nas "grandes teorias" concebidas por brilhantes cérebros peregrinos que pensaram ter "descoberto" as leis da história. Uma teoria sem um fato é tão inútil quanto um fato sem uma teoria.
As mais encantadoras das "grandes narrativas" continuam a sobreviver, mas apenas como um componente residual na "cultura" que nos identifica. É tempo de aceitar o fato de que as populações estão cansadas e desacorçoadas com os sofrimentos impostos pelo pensamento mágico, que sugere transcender as condições físicas que as constrangem, com o apelo à ilusória "vontade política", pois eles sempre terminaram no "populismo" barato que, no final, sai-lhes muito caro...
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Neste instante em que o país testemunha as trágicas consequências de uma política econômica voluntarista, mesmo o indivíduo mais modesto "sente" que o único caminho que lhe resta, é encontrar um emprego remunerado e continuar a receber um apoio que lhe dê proficiência funcional e lhe permita, com seu próprio esforço, conquistar a cidadania.
Mas todos "sentem" que isso só acontecerá se for restabelecida a confiança entre a sociedade e o poder incumbente que, com as informações então disponíveis, ela mesma elegeu. É condição necessária (ainda que não suficiente) para a retomada do crescimento sustentável e inclusivo.
É insensato, por outro lado, negar que, de 2003 a 2011, beneficiado por uma excepcional expansão externa, o Brasil melhorou: cresceu média 4,1% a.a. -40% acumulado, aumentou a igualdade de oportunidades, reduziu a desigualdade, manteve a inflação relativamente controlada, gerou superavit primários médio de 3,1% do PIB e estabilizou a relação Dívida Bruta/PIB (após reduzi-la) em 52% do PIB. Infelizmente, para controlar a inflação valorizou a taxa de câmbio e destruiu a indústria nacional!
Uma enorme miopia ideológica a partir de 2012 impediu que o governo visse que as condições objetivas tinham mudado e que era hora de também mudar a política econômica. Insistir na mesma foi um erro. Aprofundá-la, como sugere o "Programa Nacional de Emergência" do PT, será a destruição final do governo de Dilma Rousseff.<;font>
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*Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade de São Paulo.