No rali da Lava Jato, mercado visualiza um Brasil pós-PT 04/03/2016
- Blog de Geraldo Samor - Veja.com
Os mercados brasileiros explodiram ontem, em meio à percepção de que os desdobramentos da Lava Jato podem levar ao impeachment ou a uma renúncia, abrindo a perspectiva de reformas que recoloquem a economia nos trilhos.
A revelação pela revista IstoÉ de que o senador Delcídio Amaral implicou a presidente Dilma e o ex-presidente Lula em tentativas de frear e obstruir a Lava Jato foram a faísca que incendiou o mercado.
Há pelo menos dois meses os investidores já flertavam com a ideia de que uma eventual prisão de Lula levaria a um enfraquecimento de Dilma (e daí à renúncia ou ao impeachment); ontem, aquele flerte virou um casamento oficial.
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Não importou que o acordo de delação de Delcídio não tenha sido homologado (aceito) ainda pelo Supremo Tribunal Federal.
Não importaram sequer os desmentidos — cada vez mais peremptórios — do advogado do senador.
O Real e a Bovespa dispararam como reféns subitamente libertos do cativeiro, enquanto os investidores despejaram o dólar na rua da bravura.
No final, a Bovespa fechou em alta de 5,1% — com 51 ações que fazem parte do índice em alta e 10 em baixa — descolando das bolsas americanas, que passaram o dia tentando sair do vermelho.
O rali não foi causado por dinheiro novo, e sim pela zeragem de apostas "contra" os fundamentos da economia.
Neste ambiente, muitos investidores que haviam alugado ações para vendê-las (com a expectativa de recomprá-las depois a um preço mais baixo) se viram forçados a recomprá-las agora.
A Bovespa fechou um fio de cabelo abaixo de sua média de 200 dias, um nível técnico que os investidores que se apoiam em gráficos consideram ser crítico.
“A regra geral é: você vende a Bolsa quando ela está abaixo da média de 200 dias e só considera comprar quando ela está acima.”
A Petrobras — levada à beira da inadimplência pelos governos Lula e Dilma — subiu 16% sonhando com uma mudança de regime que lhe restaure a sanidade.
Na outra ponta, empresas exportadoras como Suzano e Fibria — com a maior parte da receita em dólar — foram esmagadas pelo afundamento da moeda americana.
(A Embraer sofreu mais ainda, depois de divulgar um resultado pior do que o esperado. Caiu 14%.)
No mercado spot, o dólar fechou a 3,799 reais, o nível mais baixo
desde 9 de dezembro.
Deu quase para lembrar os velhos tempos em que a Bolsa não era tóxica e o dólar era apenas para os covardes…
No final do dia, alguns investidores compraram opções de venda, julgando o mercado "sobrecomprado" no curto prazo.
Muitos fundos multimercados — que têm usado a estratégia de comprar o índice futuro enquanto ficam vendidos em empresas com maus fundamentos — podem ter se machucado hoje, já que empresas cujos balanços estão à beira do colapso — como Usiminas e Petrobras — subiram bem mais do que o índice.
A Usiminas subiu 35%; Petrobras, 16%.
Como é a regra com o mercado, o movimento não permite tirar conclusões sobre o dia de hoje.
Mas depois de ontem, nunca esteve tão clara a tese de que a mera perspectiva de mudança no Poder já é capaz de "reprecificar" o País — ainda que o conserto de tudo que foi quebrado certamente vá demorar anos.