O que explica o silêncio de Marcelo Odebrecht? 09/03/2016
- Blog de Reinaldo Azevedo - Veja.com
A sentença de Sergio Moro, se confirmada em instância superior, é devastadora para Marcelo Odebrecht e para os demais diretores do grupo. E certamente está longe de ser uma boa notícia para o conglomerado, um gigante que deve sobreviver aos percalços, mas com abalos óbvios.
É evidente que a Odebrecht não é o que é e não tem o tamanho que tem só porque pagou propina.
Ou as outras estariam no mesmo nível, certo?
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Há ali um histórico de competência e tino empresarial que têm atravessado gerações.
Mesmo os que não gostam do estilo de Marcelo Odebrecht lhe reconhecem o talento.
Por que diabos alguém faz as escolhas que ele fez?
Por que ele não conta tudo?
Uma primeira resposta, óbvia demais pra ser só isso, é esta: porque, no caso dele, falar poderia ser muito pior.
Será?
Olhem aqui: dadas as salvaguardas existentes nos acordos de leniência — e o próprio Sergio Moro recomendou que a Odebrecht faça a sua e falou da diferença entre o grupo como ente e seus dirigentes — e as garantias que um acordo de delação propicia, a mim me parece que, para Marcelo Odebrecht, não falar é que está saindo caro demais.
A menos que sua defesa consiga demonstrar algum erro material no processo, que realmente tenha contaminado tudo, inclusive a sentença, a chance de que tudo seja confirmado na segunda instância é grande.
Por decisão do Supremo, começa aí o cumprimento da pena.
Outra hipótese, esta uma delinquência veiculada pelos blogs e subjornalistas petralhas, sustenta que, se Marcelo falar, também o PSDB vai para o brejo…
É mesmo?
Será que o empresário aceitaria uma pena de mais de 19 anos, sendo proibido de voltar ao comando do grupo, só para… preservar tucanos?
Ainda que fosse verdade e que os tucanos também se dessem muito mal se ele falasse tudo, é evidente que não é por isso que mantém silêncio e se nega, até agora, a fazer delação premiada.
Até onde sei, não procedem os boatos de que Emílio, o pai, teria autorizado o filho a dar com a língua nos dentes.
A decisão sempre foi de Marcelo.
A defesa de Odebrecht dá a entender que vai continuar a batalhar ainda no terreno propriamente judicial, tentando desqualificar as provas, insistindo na tese, até agora fartamente derrotada, de que os elementos apontados contra a Odebrecht não atingem Marcelo pessoalmente.
A delação dos demais diretores já estaria sendo articulada, o que a empresa não confirma.
Reitere-se: caso tivesse feito, logo no começo, um acordo de delação premiada, é evidente que Marcelo e a Odebrecht estariam hoje em melhor situação, a exemplo de alguns pares seus que escolheram esse caminho.
Dada a realidade objetiva, dado tudo o que se sabe, parece de tal sorte absurdo que alguém escolha o caminho de Marcelo que a gente tende a achar o óbvio: em algum momento, ele fala.