O ex-governo e seus ex 13/03/2016
- Carlos Brickmann - www.chumbogordo.com.br
Mais uma vez, o mundo se curva ante o Brasil: nunca dantes na História universal um país teve a oportunidade de ser governado ao mesmo tempo por dois ex-presidentes.
Se Lula virar ministro – de qualquer Ministério, até mesmo o da Pesca – Dilma terá deixado de ser presidente, embora continue no palácio, com mordomias, dieta Ravenna, passeios de bicicleta com seguranças e avião oficial.
Lula, o ex-presidente, vira o governante de fato.
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Se a Bolívia não tem mar mas tem ministro da Marinha, se no Gabão há Ministério da Justiça, por que não podemos ser governados por dois ex-presidentes, ou por apenas um, ou nenhum?
Pode ser – mas só amanhã saberemos se o atual ex aceitou o convite da futura ex para assumir algum Ministério.
Por que a demora?
Porque, claro, a opinião pública maldosa talvez conclua que Lula terá sido nomeado ministro para ganhar foro privilegiado e assim escapar da caneta do juiz Sérgio Moro.
Se a nomeação saísse nos últimos dias, a manifestação Fora Dilma, Fora PT deste domingo, que mostra potencial para ser a maior de todas, cresceria ainda mais.
Melhor esperar.
Vladimir Putin governou a Rússia como presidente, ex-presidente e presidente de novo.
Mas a Rússia é parlamentarista, tem primeiro-ministro, e o Brasil é presidencialista.
Lula não é Putin.
preposto de Putin na Presidência, Dmitri Medvedev, não é Dilma.
Aceitou bem seu papel de poste e não tentou escantear o líder.
Claro, prepostos sempre têm algo em comum: os discursos de Medvedev também são incompreensíveis.
Mas só porque são em russo.
É diferente.
Lembrando
Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, com a derrota das ditaduras, o ditador Getúlio Vargas balançou no poder, mas ainda tinha apoio para manter-se.
Tentou reforçar sua posição: nomeou para o cargo mais importante da segurança pública, a chefia de Polícia do Rio, seu irmão, Benjamin “Beijo” Vargas.
Os generais rejeitaram a tentativa de golpe presidencial.
Getúlio foi deposto.
Novidade
No PT, anunciou-se que Lula poderia ir para a Casa Civil, de onde comandaria o esforço para reerguer o Governo (Jaques Wagner iria para outro posto importante).
Só que a Casa Civil carrega uma maldição: José Dirceu foi preso, Erenice Guerra foi demitida após acusação de favorecimento de parentes e amigos, Antônio Palocci foi demitido depois que se apurou a multiplicação de seu patrimônio.
Lula seria uma novidade: já assumiria submetido a várias investigações.
A hora da xepa
Como está o clima em Brasília?
Ricardo Kotscho, que gosta pessoalmente de Lula, que foi seu secretário de Imprensa na Presidência, eleitor fiel do PT, define a situação do Governo como “fim de feira”.
E tudo tende a piorar.
Jornalistas políticos, como José Nêumanne, batem pesado: “Faltar à manifestação”, diz Nêumanne, “será favorecer o crime organizado”.
Lojas se associam à convocação, como a rede de lanchonetes Habib’s.
Há as delações do pessoal da Odebrecht, a homologação da delação de Delcídio, o interrogatório do marqueteiro João Santana e de sua esposa.
Na política, Renan Calheiros se uniu a Michel Temer, reunificando o PMDB, e o comando do partido decidiu agir de acordo com o PSDB.
Nem chega a ser traição: o PMDB crê que Dilma não tem como se sustentar e é preciso cuidar do futuro.
Se Dilma sofrer impeachment (ou renunciar), assume Temer.
Se a chapa for cassada pelo TSE, quem assume é Eduardo Cunha, para convocar eleições.
Não dá (veja abaixo: Cunha tende a enfrentar novos problemas).
Temer, num grande acordo partidário, seria a saída menos traumática.
Tiro ao Cunha
Lembra das contas na Suíça, com US$ 5 milhões, que alimentavam as despesas de Eduardo Cunha e família?
São só o começo.
O Supremo investiga, no total, 13 contas na Suíça e em outros países, nas quais, supõe-se, foram parar pouco mais de 50 milhões de acarajés.
Quem indicou o caminho foi a Carioca Engenharia, responsável pelas obras do Porto Maravilha, no Rio.
Cinco contas abastecidas com dinheiro de propina, dizem os delatores da Carioca, seriam com certeza de Cunha; sobre outras quatro não há certeza, mas a probabilidade é alta.
E há as quatro já identificadas, das quais Cunha diz receber apenas os rendimentos.
Liberdade, liberdade
Mas, apesar de tudo, não há apenas más notícias para os petistas mais próximos de Lula e Dilma.
A Turma do Mensalão vai sendo silenciosamente liberada das punições a que foi submetida nos velhos tempos, quase esquecidos, do ministro Joaquim Barbosa.
João Paulo Cunha, que foi presidente da Câmara, e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares acabam de ter a pena extinta pelo Supremo Tribunal Federal.
José Genoíno, ex-presidente do PT, e Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, receberam o benefício há um ano.
Os próximos condenados, com boa chance de ter a pena extinta, são os ex-deputados Valdemar Costa Neto, ex-presidente do PL, Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB (que fez a denúncia do Mensalão), Bispo Rodrigues, Pedro Henry e Romeu Queiroz; o advogado Rogério Tolentino; e o ex-vice-presidente do Banco Rural, Vinícius Samarane.
O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu pediu o benefício, mas não foi atendido.