Procura-se quem tenha coragem de dizer a Dilma que ela já perdeu 22/03/2016
- Blog de Ricardo Noblat - O GLOBO
Não, nem Lula teve ainda essa coragem. Ele tem dito a Dilma que a situação é muito ruim, mas que se todos se empenharem, dará, sim, para arquivar na Câmara dos Deputados o pedido de impeachment.
Lula diz isso só por ouvir dizer. Ele mesmo, com o título de ministro suspenso, e medo de ser preso pelo juiz Sérgio Moro, está mais preocupado com seu destino do que com o destino de Dilma.
Na semana passada, quando telefonou para o vice-presidente Michel Temer e perguntou se ainda havia na casa dele uma cachacinha gostosa para os dois tomarem juntos, Lula parecia animado. Não está mais.
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Temer concordou em recebê-lo. Mas no dia seguinte, cancelou o encontro depois que Dilma convidou o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para ser ministro da Secretaria da Aviação Civil. Lopes aceitou o convite.
A recente convenção nacional do PMDB aprovou resolução proibindo seus filiados de assumirem cargos no governo até que se decida se o partido romperá com Dilma. A decisão será tomada na próxima terça-feira.
Lula tem tentado remarcar seu encontro com Temer, mas o vice-presidente passou à clandestinidade. Sabe-se que estaria em São Paulo, embora amigos dele informem que Temer voou para Lisboa.
A caça de Lula a Temer, e a de Dilma também, é uma demonstração convincente de que Lula, Dilma e o governo estão totalmente perdidos, sem encontrar saídas para a situação que enfrentam.
Quando se cobra que apontem saídas, apontam as óbvias que, a essa altura, se revelam ineficientes. Por que imaginar que uma conversa com Temer poderia manter o PMDB no governo?
Ora, Temer será o maior beneficiário do impeachment de Dilma. E, por mais que negue, está tomando com discrição as providências necessárias para governar em breve.
Dilma contou aos seus ministros de confiança que conversará com cada um dos 65 deputados que integram a Comissão Especial do Impeachment. Ela, que nunca gostou de conversar com políticos, dirá o quê para eles?
Mais: acenará com o quê para eles? Liberação de emendas ao Orçamento para beneficiar os redutos eleitorais dos deputados? Não funcionará. Falta dinheiro ao governo para tal.
Cargos no governo a serem preenchidos por indicação dos deputados? Mas logo num governo que pode estar a poucos meses do seu fim? E quem, no momento, quer correr esse risco? Vai que Moro fica sabendo...
Dilma – quem sabe? – poderá apelar para o patriotismo dos deputados e prometer para breve o anúncio de importantes medidas que debelarão a crise econômica e, por tabela, a política.
Quem acreditará? De resto, tudo o que Dilma possa oferecer, Temer também poderá, e em dobro. E com uma vantagem: ele tem pinta de futuro. Dilma, de passado. E de um passado triste.
No entorno da presidente, não existe um só auxiliar que acredite na salvação dela. Todos já jogaram a toalha. E todos torcem para que ela renuncie, abreviando sua agonia e a do país.