No Novo Testamento há uma referência a Armageddon, onde as forças do bem e do mal travarão a batalha final que decidirá o fim do mundo. Pois bem: em Brasília, na segunda semana de março de 2016, iniciou-se a batalha final! Dilma convocou sua última reserva, o ex-presidente Lula, nomeando-o para chefe da Casa Civil, com a esperança de que ele reagrupará o exército que ela dispensou!
Por outro lado, a Câmara dos Deputados, numa resposta rápida e eficiente mobilizou-se e deu início ao processo de impeachment.
Nossas incertezas são produzidas por um processo político-econômico que se auto-alimenta e só se mitiga com a arbitragem, cada vez mais frequente, do STF, o que, revela dificuldades intransponíveis no tratamento civilizado, necessário e insubstituível que deve existir entre os poderes Executivo e Legislativo.
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A consequência mais grave do ilusório presidencialismo de coalizão, que nem preside nem coaliza, é um desarranjo estrutural das finanças públicas no meio de uma recessão que provavelmente será a maior da história do Brasil.
Os ministros da Fazenda escolhidos por Dilma propuseram soluções razoáveis, mas ela sempre lhes deu apoio relativamente descompromissado, porque contrariam o pensamento mágico do seu partido, o PT, que continua insistindo na solução bem sucedida na crise de 2009, quando as condições eram completamente diferentes das atuais. Repeti-la, hoje, seria insensatez.
A escolha de Lula, que é um negociador competente e pragmático, objetivou basicamente dar uma ordem unida ao seu partido, que é quem tem criado as maiores dificuldades para Dilma.
Ele tem condições para fazê-lo, porque o PT sabe que sem a sua liderança carismática será apenas um pequeno partido reacionário a serviço de um sindicalismo míope a serviço do corporativismo do funcionalismo público e, demagogicamente, contra o progresso tecnológico, que no longo prazo é o verdadeiro instrumento do aumento da produtividade do trabalho.
Em condições normais de pressão e temperatura, a nomeação de Lula, provavelmente, teria condições de reconstruir a formidável base parlamentar que a inabilidade política do governo destruiu.
Infelizmente, o início do processo de impedimento da presidente parece tê-la tornado tarde demais.
Depois dos "grampos" e da resistência legal à sua escolha, a situação está longe das condições normais de pressão e temperatura...
Será difícil provar a intencionalidade de um ato subjetivo como a nomeação de Lula, mas a situação é muito grave e poderá, eventualmente, reforçar os motivos de impeachment.
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*Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade de São Paulo.